Uma experiência realizada com 228 pessoas que frequentemente passam pelo vão livre do Museu de Arte Moderna (Masp), em São Paulo, 4% delas apresentaram um índice de comprometimento pulmonar semelhante a de um tabagista, segundo estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e divulgado hoje (14).

O professor e coordenador do Laboratório de Poluição Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Hilário Saldiva, disse que uma experiência que fez para medir a poluição em sua sala na faculdade de Medicina durante 24 horas, constatou que o volume de partículas poluentes absorvido pelos pulmões é semelhante ao de dois cigarros.

“Mesmo sem querer, eu fumo dois cigarros por dia. A poluição faz todo mundo fumar, inclusive aqueles que não podem, como as gestantes e os asmáticos”, explicou. “E alguns fumam mais, como motoristas de ônibus e fiscais de trânsito, que ficam mais expostos à poluição”. O estudo mostrou ainda que 70% das pessoas da amostra apresentaram de 1 a 6 partes por milhão de monóxido de carbono.

O professor informou ainda que o índice de poluição máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 25 miligrama (mg) por metro cúbico (m3). “No corredor de ônibus da Avenida Nove de Julho(na capital paulista), este índice pode chegar a 140 mg por m3, é um verdadeiro laboratório de intoxicação humana”, afirmou.

De acordo com Saldiva, os estudos realizados no sistema de saúde comprovam os danos da poluição. Segundo ele, a cada 100 crianças internadas com problemas respiratórios como bronquite e pneumonia, por exemplo, 16 são em decorrência da poluição. “Em cada dez casos de infarto, um é por causa da poluição. E a cada 100 casos de câncer de pulmão, oito são consequência da poluição”, disse.

O professor explicou ainda que as pessoas que vivem nas grandes cidades são as mais prejudicadas pela poluição do que as de cidades pequenas. E destas, a parte mais pobre são as que sofrem mais. “Eles não ficam mais protegidos da poluição em carros com ar-condicionado. Muito pelo contrário, enquanto esperam o ônibus estão cada vez mais expostos. Isso é o que chamo de desigualdade ambiental”, afirmou.

O professor ressaltou que não há tratamento para o ar como existe para água, e que várias atitudes podem melhorar a saúde da população, como o de investir em transporte público e reduzir os índices de poluição causada por veículos automotores. “Além de adotar um diesel menos poluente, como o S10 (menos teor de enxofre), podemos usar os motores com diesel com catalisador”, explicou.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Antonio Carlos Palandri Chagas, a poluição afeta primordialmente os sistemas cardiovasculares e respiratórios. “Primeiro ela altera a capacidade respiratória e, consequentemente, a circulação. À medida que a circulação vai se alterando, prejudica a capacidade do coração de bombear o sangue, desencadeando uma série de problemas”, disse.


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Quem respira o ar das grandes cidades está sujeito às doenças de quem fuma, diz estudo