A taxa anual de desmatamento na Amazônia, um fantasma que perseguiu governos ao longo das últimas duas décadas e cujo anúncio, em geral em tom sombrio, sempre sobrou para o ministro do Meio Ambiente, este ano foi motivo de festa oficial, que teve como mestre de cerimônia a chefe da Casa Civil e candidata à Presidência, Dilma Roussef. Entre agosto de 2008 e julho de 2009 foram desmatados 7.008 km2 de floresta, o menor índice desde que o desmatamento começou a ser monitorado pelo Inpe, em 1988. É uma área maior do que a do Distrito Federal.

A presença da ministra – que nunca escondeu seu pouco interesse por questões ambientais – à frente do anúncio foi o sinal mais eloquente de que o governo tinha em mãos números que, na sua visão, eram dignos de aplauso.  Não é tão simples assim. “A queda é importante, mas ainda está se derrubando muita floresta na Amazônia”, afirma Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace.

Para o Greenpeace, o mérito da redução da taxa de desmatamento pertence sobretudo à sociedade brasileira. “Há anos ela clama por ações de proteção da Amazônia, obrigando governos a tomar providências mínimas para, pelo menos, diminuir o tamanho do desastre. E, quando qualquer governo segue a lei, o desmatamento cai”, diz Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia. “Graças à pressão da sociedade civil, conseguimos barrar mudanças perversas no Código Florestal que aumentariam o desmatamento. Mas essa ameaça continua viva. Vamos continuar vigilantes para que a tendência de queda seja consolidada e permita transformar em realidade o sonho do desmatamento zero na Amazônia.”

Infelizmente, Lula não quer tanto. Ele próprio já disse que a meta do governo é reduzir em 80%, até 2020, o desmatamento médio ocorrido na região nos últimos dez anos, que foi de 19.000 km2. O presidente, portanto, ficará feliz se daqui a onze anos a floresta amazônica estiver sendo derrubada ao ritmo de pouco menos de três cidades de São Paulo por ano. E este esforço deve ser o grosso da meta voluntária que o Brasil levará para Copenhague, em uma das mais importantes reuniões para discutir medidas para barrar o aquecimento global, em dezembro.

Além da pressão dos brasileiros sobre o governo, outras ações contribuíram para esta nova redução da taxa. “As ações do Ministério Público do Pará, que paralisaram a pecuária no estado que mais desmata no país, aliadas à implementação da moratória da soja também foram fundamentais para conter o desmatamento da floresta”, diz Adario. A crise financeira mundial que estourou no final do ano passado também colaborou para refrear o ritmo da derrubada, com queda na demanda de produtos amazônicos ligados ao desmatamento – como carne, soja e madeira.

O número divulgado hoje confirma também que o desmatamento vem mudando de padrão nesse período. O corte raso, que habitualmente ocorria em grandes extensões, pulverizou-se por áreas menores do que 100 hectares, o que torna o combate oficial bem mais difícil. A taxa anual anunciada pela ministra, por sinal, deve ser ainda vista com razoável cautela. Os dados, baseados em 75% das áreas a serem analisadas, são preliminares e, uma vez consolidados, podem piorar o resultado. No ano passado, a diferença entre o índice consolidado e o preliminar foi de 1000 km2.

A implementação das medidas oficiais contra o desmatamento ainda deixa muito a desejar. No último ano, o Plano de Ação para Prevenção e Combate do Desmatamento da Amazônia, este sim de responsabilidade da ministra-chefe da Casa Civil, não recebeu qualquer prioridade por parte do governo Lula, numa clara demonstração que o governo continua subestimando o esforço exigido para proteger efetivamente a floresta.


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Queda é expressiva, mas área derrubada é maior do que a do Distrito Federal

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