A 62ª edição do Festival de Cannes foi oficialmente aberta na quarta-feira (13/05) com pouco glamour desfilando pelo tapete vermelho, mas com a impecável mostra de cinema de qualidade da produção Up, que não trouxe estrelas, porque baseia sua genialidade na animação em três dimensões.

Poucos astros hollywoodianos passaram por Cannes na cerimônia de inauguração, apresentada pelo ator Édouard Baer e na qual o brilho digital da Disney e da Pixar conseguiu conquistar espaço frente estrelas locais como Charles Aznavour, Jean Rochefort e a presidente do júri, Isabelle Huppert.

À espera da chegada, nos próximos dias, de nomes como Brad Pitt e Penélope Cruz – já confirmados -, só a gélida Tilda Swinton deu um certo sal à sofisticação intelectual “chique” que tanto agrada no festival, que se desdobra para combinar a indústria e a arte mais do que nunca em meio à crise econômica.

Claude Lelouch, Agnès Varda – que resumiu o espírito do festival com a expressão “tão refinado e tão vulgar”- e Giovanni Ribisi foram outras das personalidades que tentaram abrilhantar a abertura desta grande festa do cinema, além de Robin Wright, que faz parte do júri que decidirá o vencedor da Palma de Ouro.

Clima diferenciado

Os organizadores, de qualquer forma, sorriam devido ao alto nível de satisfação que ficou evidente após a exibição à imprensa de Up, uma aposta arriscada do festival, por ser a primeira animação a abrir Cannes, marcado habitualmente pelo cinema autoral e pelo conteúdo altamente intelectual.

A aliança da Disney e da Pixar rendeu como fruto a foto mais atípica da inauguração do festival, ao colocar na sempre impecável plateia enormes e pouco elegantes óculos para poder aproveitar ao máximo o formato do futuro: a visão estereoscópica.

Porém, a animação agradou pelo emocionante retrato que faz da paixão na terceira idade, que marcou um nível que não será fácil de ser mantido, por mais que a competição tenha nomes como Quentin Tarantino e Pedro Almodóvar, capazes de fazer o jurado Hanif Kureishi prometer que esta edição “será lembrada como clássica”.

Efeito reverso

Os primeiros a tentar confirmar esta afirmação amanhã serão a britânica Andrea Arnold, com Fish Tank, e o chinês Ye Lou, que exibirá hoje à imprensa o filme Spring Fever.

A diretora de Marcas da Vida volta a Cannes com uma visão original sobre a adolescência, enquanto Lou mostrará a fita que rodou clandestinamente depois que o Governo chinês o vetou por apresentar, também em Cannes, Summer palace.

Ken Loach, Jane Campion, Park Chan-wook e Alain Resnais buscarão atrair a simpatia de Huppert, que já ganhou duas vezes o prêmio de interpretação deste festival e tentará ser justa na escolha, “embora tenha que discutir comigo mesma”, reconheceu.

Além da mostra oficial, que concorre à Palma de Ouro e que será fechada pela aposta japonesa de Isabel Coixet em Map of the Sounds of Tokyo -, os cinéfilos também poderão desfrutar de um cardápio de filmes fora de competição.

Além dos holofotes

Entre eles estão Agora, de Alejandro Amenábar, The Imaginarium of Doctor Parnassus de Terry Gilliam, e Ne te retourne pas, de Marina de Van, o filme que aquece os motores da polêmica a partir da capa da “Paris Match”, que amanhã mostrará nuas nas bancas francesas Monica Bellucci e Sophie Marceau, as protagonistas do longa.

Além disso, a mostra não competitiva Un certain regard terá amanhã dois pesos pesados: o duas vezes ganhador da Concha de Ouro Bahman Ghobadi e o veterano Hirokazu Kore-eda, autor de Ninguém Pode Saber.

Mas Cannes, além de olhar para o futuro com Up, também olha para o passado e celebra dois aniversários. Assim, na cerimônia de abertura não faltaram menções e aplausos a Os Incompreendidos, de François Truffaut, que, há 50 anos, consolidou a nouvelle vague neste mesmo palco.

Francis Ford Coppola, 30 anos após ganhar a Palma de Ouro com Apocalypse Now, abrirá nesta quinta a Quinzena dos Produtores com a fita independente Tetro, protagonizada por Maribel Verdú e Vincent Gallo.


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Quebra do protocolo: Festival de Cannes começa sem grandes estrelas

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