Nunca tantos heróis (e vilões) apareceram nas telas de cinema. E a lista não vai parar de crescer tão cedo: até 2012 serão quase 100 novos títulos. Produzir uma versão cinematográfica de quadrinhos parece ser uma fórmula relativamente fácil e com retorno praticamente garantido: os fãs dificilmente resistem à curiosidade de saber como seus heróis foram retratados, mesmo que seja para sair falando mal depois.

Franquias bem sucedidas como as dos filmes de Batman e Homem Aranha (este último responsável pelas duas maiores bilheterias da história no Brasil, inclusive) e as boas arrecadações de produções mais recentes, como Watchmen e Homem de Ferro, incentivam a indústria a investir tanto em continuações, como uma segunda parte de Sin City, quanto em novas apostas, como, entre muitos outros, o Besouro Verde dirigido por Michel Gondry, e a aguardada versão de Tintin, que terá dois filmes, dirigidos por de Steven Spielberg e Peter Jackson.

Mas e para quem é mais do que um f㠓comum” de quadrinhos, e chega inclusive a viver disso? Será que eles já estão satisfeitos ou ainda têm vontade de ver alguma adaptação em especial? Perguntamos a alguns desenhistas e roteiristas brasileiros de quadrinhos quais os melhores filmes inspirados em HQ já feitos e quais eles ainda esperam ver um dia. Se Batman – O Cavaleiro das Trevas e Anti-Herói Americano (foto) lideram as preferências entre as produções já realizadas, na hora de sugerir o que ainda poderia vir, as respostas foram bem mais variadas. Confira a seguir:

Felipe Cunha, desenhista 
Melhor adaptação já feita? “Batman Begins. Não é uma adaptação literal, é uma história que usa muitos elementos da HQ Batman – Ano Um de um jeito novo, sem prejudicar a obra original do Frank Miller.”
Qual adaptação você gostaria que fosse feita? “Blankets, de Craig Thompson. Ficaria lindo em uma versão bem gráfica, usando vários dos elementos de ilustração que ele usa, mas talvez, quem sabe, em forma de animação, transições de cena e alguns complementos”.
Quem seria perfeito para o papel principal e qual o diretor ideal?  “Como ator, o próprio autor, por ser uma história semi-autobiográfica. Mas acho pouco provável que ele fizesse isso, portanto voto em Joseph Gordon – Levitt. Para dirigir, Michel Gondry, sonhando muito alto”.

Pablo Casado, roteirista
Melhor adaptação já feita? “Batman – O Cavaleiro das Trevas. Os elementos principais estão lá, tratados de forma contemporânea, onde roteiro e direção fizeram um filme que fosse um filme e não uma emulação de um gibi”.
Qual adaptação você gostaria que fosse feita? “Como Matar Seu Namorado, de Grant Morrison e Philip Bond. É uma graphic novel maluca, anarquista e bonita de um jeito distorcido. Publicada nos anos 90, acho que ainda hoje tem força”.
Quem seria perfeito para o papel principal e qual o diretor ideal? “Sugeriria usar atores novatos, desconhecidos mesmo, e que não sejam tipos hollywoodianos. Isso enriqueceria a adaptação. Para dirigir, Danny Boyle. Ele é britânico e a história se passa na Inglaterra, tem alguns temas que ele saberia retratar de modo interessante.

Danilo Beyruth, ilustrador profissional
Melhor adaptação já feita? “Homem de Ferro, Superhomem e Popeye, em termos de transpor um personagem que tem décadas de história, e Sin City e Estrada para Perdição, como adaptação direta de uma ‘graphic novel’, onde uma você adapta uma história na íntegra”.
Qual adaptação você gostaria que fosse feita? “Bone, de Jeff Smith, e Mortos Vivos, de Robert Kirkman”.
Quem seria perfeito para o papel principal e qual o diretor ideal? “Bone seria em animação tradicional, com direção de Hayao Miyazaki, do Studio Ghibli, e Mortos Vivos com Jake Weber, no papel de Rick, e direção de Rob Zombie”.

Cadu Simões, roteirista
Melhor adaptação já feita? “Anti-Herói Americano. Apesar de ser na verdade uma cinebiografia do quadrinista Harvey Pekar. Mas os quadrinhos de Pekar se confundem com a sua própria vida, já que as histórias eram baseadas nele mesmo e em seu cotidiano”.
Qual adaptação você gostaria que fosse feita? “O Cabeleira, de Leandro Assis, Hiroshi Maeda e Allan Alex. O interessante é que essa história foi pensada originalmente pelos roteiristas para o cinema, então o roteiro do filme já está pronto, é só alguém filmar”.
Quem seria perfeito para o papel principal e qual o diretor ideal? “Não consigo pensar em algum ator com as características para o papel: bem alto, com grande porte físico e que imponha medo apenas por sua presença. Quanto à direção, eu particularmente vejo O Cabeleira como um western spaghetti ambientado no nordeste brasileiro, então ninguém seria melhor para dirigir esse filme do que o próprio Sergio Leone. Mas na falta dele, acho que o Fernando Meirelles daria conta do recado”.

Hector Lima, roteirista 
Melhor adaptação já feita? “Batman – O Cavaleiro das Trevas. Por mais que não adapte uma história direta – e sim várias histórias costuradas em uma – é a que melhor captou o espírito dos personagens originais, do ambiente em que eles vivem e das motivações e conflitos de cada um. Apesar de alguns defeitos, foi um marco não só das adaptações de HQ como as elevou pra um patamar mais alto de Cinema com C maiúsculo”.
Qual adaptação você gostaria que fosse feita? “Os Invisíveis, de Grant Morrison. É uma HQ sobre agentes secretos anarquistas versus os ‘donos do mundo’ pelo destino da liberdade humana. Foi uma das inspirações do Matrix”.
Quem seria perfeito para o papel principal e qual o diretor ideal? “Ewan McGregor pro papel de King Mob, o líder da célula anarquista e Mitch Hewer, da série Skins como Dane McGowan, o recruta revoltado que pode ser a reencarnação de Buda – se ele não ficar velho demais na hora do filme ser feito. E, pelo que já mostraram que podem fazer, os diretores ideais seriam Danny Boyle ou David Fincher. Mas acho que mais o Boyle mesmo por ser britânico, como o autor da HQ”.

Mario Cau, ilustrador
Melhor adaptação já feita? “Depende. 300, Anti-herói Americano e Ghost World, no quesito fidelidade à obra original, Watchmen, V de Vingança, X-Men e Homem-Aranha, como obras de releitura e Homem de Ferro e Batman – Cavaleiro das Trevas, entre os baseados em HQ mainstream”.
Qual adaptação você gostaria que fosse feita? “Bone, Estranhos no Paraíso, Blankets, Fun Home e a Liga da Justiça, de Keith Giffen e J.M. DeMatteis”.
Quem seria perfeito para o papel principal e qual o diretor ideal? “Bone poderia ter boas vozes nas dublagens, os outros não sei. Há casos ótimos de casting, como Tobey Maguire de Homem-Aranha e Hugh Jackman como Wolverine, mas outros bem ruins, como o elenco de Quarteto Fantástico. Para dirigir Bone eu gostaria de um cara do nível do Peter Jackson, acostumado com épicos, criaturas fantásticas e uma boa dose de drama. Os outros, por serem mais intimistas, poderiam ter alguém como o Michel Gondry”.

Daniel Esteves, roteirista e professor de roteiro
Melhor adaptação já feita? “Anti-Herói Americano. Se for falar desses arrasa-quarteirões, gostei bastante dessa nova franquia do Batman, mas se for falar no melhor mesmo, ainda fico com o Anti-Herói Americano”.
Qual adaptação você gostaria que fosse feita? “Atualmente não tenho grande ansiedade por adaptações. Pra mim Cinema e HQ são duas artes com a mesma capacidade pra contarem boas histórias. Mas as boas HQs me bastam, não preciso vê-las em outros lugares. Uma que me vem à cabeça no momento é a série Balas Perdidas, de David Lapham. Daria uma boa seqüência de pequenas histórias no cinema”.
Quem seria perfeito para o papel principal e qual o diretor ideal? “Atores desconhecidos, porque o legal da série é se tratar de pessoas “comuns”. Atores famosos estragariam um pouco esse clima. E gostaria que a direção fosse do Tarantino, mas da época em que ele sabia fazer filmes e não ficava só querendo homenagear o bando de referências juvenis dele”.

Felipe Sobreiro, desenhista e colorista
Melhor adaptação já feita? “Anti-Herói Americano. O híbrido de dramatização e documentário teve tudo a ver com o aspecto biográfico das historias do Harvey Pekar”.
Qual adaptação você gostaria que fosse feita? “100 Balas, de Brian Azzarello e Eduardo Risso. Mas gostaria que fizessem uma adaptação para série, e não para filme”.
Quem seria perfeito para o papel principal e qual o diretor ideal? “Se dependesse de mim, escolheria o Lance Henriksen como o Agente Graves, a Eva Mendes como Dizzy e o Johnny Depp como Cole. E, na direção, seria ideal o Michael Mann”

Rodrigo Alonso,  roteirista
Melhor adaptação já feita? “Difícil dizer. Acho que os dois primeiros filmes do Homem-Aranha são as melhores adaptações de personagem. Mas como tradução de uma mídia para outra (o real desafio) voto em Watchmen, que eu sinceramente considerava impossível de se filmar.
Qual adaptação você gostaria que fosse feita? “Difícil escolher, eu geralmente não gosto da ideia de adaptações. Acho que cada mídia tem seus pontos fortes e fracos e que, se algo foi feito para os quadrinhos, então foi feito pensando nos pontos fortes dos quadrinhos e há muito risco na tradução. Um diálogo escrito para ser lido é diferente de um escrito para ser ouvido, por exemplo”.
Quem seria perfeito para o papel principal e qual o diretor ideal? “Acho que não consigo responder essa. Sou incapaz de olhar para algo desenhado em uma folha de papel e pensar “isso ficaria bom com uma pessoa de carne e osso”. Soa um pouco como desrespeitar o desenhista”.


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Quadrinistas elegem as HQs que gostariam de ver no cinema