A história mostra que Copa do Mundo sem Alemanha não é Copa. São sete finais, três títulos (1954, 1974 e 1990) e muita superação. Ao lado do Brasil, foi quem mais jogou em Mundiais: 92 vezes. A frase “desistir jamais” é um retrato da seleção e de seu povo: organizado, educado, eficiente e perseverante.
Só essa tradição nos faz acreditar nos alemães em 2010. O técnico Joachim Löw, auxiliar de Klinsmann em 2006, coleciona uma série de problemas que faria a maioria dos treinadores brasileiros reclamarem: perdeu seus dois goleiros (Enke se suicidou e Adler está machucado), um zagueiro que seria titular (Westermann), dois meias (Rolfes e Traesch) e o capitão da equipe (Ballack).
Löw melhorou a seleção, observou gente nova e foi vice-campeão europeu. Há quem diga que ele já fazia o papel de técnico quando Klinsmann levou os germânicos ao terceiro lugar em casa: era o estudioso e o ex-atacante, o motivador.
Se comparada à última Copa do Mundo, a Alemanha ganhou mais opções no ataque e piorou nos outros setores.
A escola de grandes goleiros deu lugar a arqueiros inseguros e chamados às pressas (Butt, por exemplo). O capitão é Lahm, um lateral que apoia bem e joga nos dois lados. Não há lateral-direito de ofício: Boateng é volante e, se jogar na defesa, não passará do meio-de-campo. Mertesacker e Tasci devem compor uma zaga alta, experiente, mas lenta.
A saída de Ballack – que é referência, apesar de estar em uma fase apagada – trouxe um aspecto positivo: é provável que Schweinsteiger ganhe mais liberdade. O jogador do Bayern de Munique é um motorzinho; está para Löw como Elano para Dunga.
O ataque tem Klose, que na seleção joga muito mais que nos clubes: pelo Bayern, fez uma fraquíssima temporada. É improvável que ele seja artilheiro como foi em 2002 e 2006. Já Podolski preocupa por ser tão bom jogador quanto preguiçoso e inconstante.
O alívio é que Cacau, Mario Gomez e Kiessling são opções que podem mudar a característica da equipe: velocidade e força (Cacau) ou bola aérea (Gomez).
Faltará criatividade e sobrará disposição na Alemanha.
O grupo com Austrália, Servia e Gana é traiçoeiro e aparenta ser mais fácil do que realmente é. Os africanos sem Essien perdem a força; os sérvios fizeram uma grande eliminatória e os australianos parecem ser os mais fracos da chave, à espera de tropeços dos favoritos.
Só tradição e frieza mantêm uma Alemanha cheia de problemas na rota de um difícil tetracampeonato. Se fosse outra seleção, estaria descartada….
(Colaboração: Raphael Prates)