A Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal (PF), além de investigar a remessa ilegal de dinheiro para o exterior, apura a existência de superfaturamento em obras realizadas pelo grupo Camargo Corrêa. As investigações também apontaram a existência de supostas doações não declaradas para partidos políticos.
Obras
Entre as obras superfaturadas estaria a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, também conhecida como Refinaria do Nordeste, da Petrobras. O prejuízo para os cofres públicos, segundo as investigações, seria de R$ 71 milhões.
De acordo ainda com as investigações, Kurt Paul Pickel, nascido na Suíça e naturalizado brasileiro, seria o responsável por coordenar e intermediar o esquema, que envolveria também operações ilegais de câmbio, com o envio de altas quantias de dinheiro para o exterior e lavagem de valores para o grupo Camargo Corrêa.
No esquema, Pickel se ligaria a Pietro Francesco Giavina Bianchi, Fernando Dias Gomes e Dárcio Brunato, diretores da Camargo Corrêa, e com as secretárias deles, Darcy Flores Alvarenga e Marisa Berti Iaquinto. Outro diretor da empresa, Raggi Badra Neto, também estaria envolvido na organização, mas de forma secundária.
Pickel seria também o responsável em fazer as intermediações entre os diretores da construtora e os doleiros José Diney Matos, Jadair Fernandes de Almeida e Maristela Sum Doherti. Todos foram presos na quarta-feira (25/03) pela Polícia Federal.
Partidos Políticos
As interceptações telefônicas feitas pela PF, autorizadas judicialmente, também apontaram a existência de supostas doações não declaradas para políticos e partidos políticos, feitas pelo grupo Camargo Corrêa. Os diretores da empresa, segundo as investigações, teriam entrado em contato com a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) para a “suposta distribuição de valores a políticos e/ou partidos políticos”, segundo o documento da Justiça Federal assinado pelo juiz Fausto De Sanctis.
Entre os partidos que teriam recebido as doações estão o PPS, PSB, PDT, DEM, PP, PSDB e PS.
“Os diálogos monitorados revelam a princípio tratativas e possíveis entregas de numerários supostamente a políticos e a partidos políticos oriundos, em tese, da empresa Camargo Corrêa, com a suposta intermediação da Fiesp, direta ou indiretamente”,
A polícia suspeita que os supostos crimes financeiros cometidos pelo grupo poderiam servir para tentar fraudar as eleições de 2008.
PAC
A Camargo Corrêa recebeu do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) cerca de R$ 129 milhões nos últimos três anos. O valor coloca a construtora em 15º lugar na lista das 20 empresas mais bem contempladas com a prestação de serviços à União, por meio de obras e projetos do PAC. Só no ano passado, a construtora recebeu R$ 102,7 milhões para executar obras do Programa.
Respostas
Em nota, a Fiesp diz que é uma “entidade apolítica, independente, voltada aos interesses coletivos da indústria paulista e da sociedade brasileira” e que não se envolve “em eventuais relações entre empresas do setor que representa e partidos políticos, ou candidatos deles”. A Fiesp também diz não temer qualquer investigação.
Já a Petrobras respondeu que contratou o consórcio liderado pela Camargo Corrêa para obra de terraplanagem na Refinaria Abreu e Lima e que, como uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) havia apontado indícios de superfaturamento no contrato, houve suspensão parcial do pagamento, embora a estatal não tenha considerado a existência de sobrepreço e de superfaturamento na obra.
Em comunicado, o PSDB confirmou ter recebido doações da empresa Camargo Corrêa, mas informou que todas estão dentro do que determina a lei e declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “O PSDB desconhece que qualquer empresa ou doador tenha atuado fora dos limites legais e condena tal procedimento”, diz a nota.
O PPS, em nota assinada pelo presidente do partido, Roberto Freire, afirma não ter recebido doação de recursos não-contabilizados e considera que a Polícia Federal foi usada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de atingir os partidos de oposição. O partido também diz que pretende processar os autores “dessa leviana acusação”.
O DEM, em nota assinada pelo presidente do partido, Rodrigo Maia, diz desconhecer e jamais ter aceitado “qualquer doação ilegal para campanhas eleitorais”.
Os demais partidos não foram localizados.
Também em nota, a Polícia Federal ressaltou que está investigando crimes financeiros e lavagem de dinheiro e que os demais crimes apontados, tais como indícios de superfaturamento em obras e doações irregulares a partidos políticos, serão investigados “somente após análise do material apreendido”.