O líder cubano Fidel Castro disse nesta quinta-feira que, embora o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, seja “um fanático crente do sistema capitalista imperialista” que às vezes fala “bobagens” sobre Cuba, não nutre nenhum sentimento de “animosidade” contra ele.
Em um novo artigo da série Reflexões, publicado em uma coluna dos meios de comunicação oficiais, Fidel alterna críticas e elogios ao chefe de Estado americano, que ontem pediu o fim da repressão e a liberdade de todos os presos políticos da ilha.
“Espero que as tolices que (Obama) às vezes expressa sobre Cuba não ofusquem sua inteligência”, escreveu o primeiro-secretário do Partido Comunista, que não fez citações diretas às recentes declarações de Obama.
Ontem, um comunicado da Casa Branca classificou como “profundamente preocupantes” os últimos eventos em Cuba, como a morte do preso político Orlando Zapata após 85 dias de greve de fome e a repressão aos protestos dos familiares de 75 dissidentes presos em 2003.
Esses eventos, segundo Obama, ressaltam que, em vez de abraçar a oportunidade de entrar em uma nova era, as autoridades cubanas continuam respondendo às aspirações do povo cubano com o punho fechado.
Para Fidel, de 83 anos, o chefe de Estado americano “é um fanático crente do sistema capitalista imperialista imposto pelos Estados Unidos ao mundo”. No artigo, o ex-presidente até elogia Obama pela recém-aprovada reforma da saúde. Porém, critica o americano por ter aceito o Prêmio Nobel da Paz 2009.
“Por elementar sentido ético, Obama deveria ter se abstido de aceitar o Prêmio Nobel da Paz, uma vez que já tinha decidido enviar 40 mil soldados a uma guerra absurda no coração da Ásia”, disse Fidel, referindo-se ao Afeganistão.
“A política militarista, o saque dos recursos naturais e a troca desigual da atual Administração com os países pobres do Terceiro Mundo em nada se diferenciam das (práticas) de seus antecessores, quase todos da extrema direita, com algumas exceções”, acrescentou o líder cubano.
Fidel também criticou o desempenho de Obama na cúpula sobre a mudança climática de dezembro, realizada em Copenhague (Dinamarca). Segundo ele, os “Estados Unidos, o maior emissor de gases causadores do efeito estufa, não estavam dispostos a fazer os sacrifícios necessários, apesar das palavras melosas ditas antes” pelo presidente dos EUA.
“Apesar disso, não nutrimos nenhum sentimento de animosidade contra Obama, e muito menos contra o povo dos Estados Unidos”, escreveu o cubano. “Achamos que a reforma da saúde foi uma importante batalha e um grande êxito de seu Governo”, admitiu Fidel, que não aparece em público há quatro anos.
Para Fidel, parece “realmente insólito que, só 234 anos depois da Declaração da Independência (americana), em 1776, (…) o Governo desse país tenha aprovado o atendimento médico para a imensa maioria de seus cidadãos, algo que Cuba estendeu à toda sua população há meio século”, acrescentou.
Ainda segundo o artigo, “seria pior se os que protagonizaram as torturas, os assassinatos encomendados e o genocídio ocupassem novamente o Governo dos Estados Unidos”.