A ONU revelou hoje que seus especialistas calculam que o mundo precisa investir entre US$ 500 bilhões e US$ 600 bilhões anuais – 1% do Produto Interno Bruto mundial – em medidas de mitigação e adaptação à mudança climática, para evitar as consequências mais nefastas deste fenômeno.

Um relatório das Nações Unidas, que aborda de maneira minuciosa, e pela primeira vez, como enfrentar a mudança climática sem prejudicar o crescimento dos países em desenvolvimento, pede que os Governos “pensem em termos mais audaciosos”, antes que seja tarde demais para substituir as fontes de energia poluentes.

Se os investimentos não começarem já, advertem os especialistas, “corre-se o risco real de que se continue investindo em fontes de energia sujas que, devido a sua longa vida útil, se transformarão em armadilhas que impedirão novos investimentos (em tecnologias limpas) durante várias décadas”.

Realizar mudanças marginais também não é uma alternativa, afirmam, após advertir que, sem uma mudança profunda, “a perda permanente do Produto Interno Bruto mundial previsto poderia alcançar 20%”.

Os estudos de referência realizados nos últimos anos propuseram diversas estimativas do financiamento necessário para enfrentar a mudança climática, que vão de US$ 180 bilhões a US$ 1,2 trilhão.

No entanto, várias dessas avaliações consideram que é possível esperar até 2030 para oferecer esses recursos.

O relatório apresentado hoje – na Conferência Mundial sobre o Clima realizado esta semana, em Genebra – rejeita esse prazo e sustenta que os investimentos adicionais devem ser feitos agora.

Nesse sentido, considera que os recursos bilaterais e multilaterais comprometidos a curto prazo para a mudança climática são insuficientes, assim como os US$ 21 bilhões em fundos oficiais anuais destinados a enfrentar a mudança climática, a maioria dos quais serve para minimizar os efeitos (desastres naturais), e não preveni-los.

Em entrevista coletiva, o principal autor do relatório, Richard Kozul-Wright, se declarou contra as teses dos organismos financeiros internacionais que propuseram confiar no livre mercado para gerar os investimentos necessários neste âmbito.

O especialista lembrou que o problema do aquecimento global está contribuindo para aprofundar as desigualdades entre os países ricos e pobres, pois estes últimos são os que sofrem os mais graves efeitos da mudança climática.

As projeções indicam que, para cada aumento de 1 grau centígrado nas temperaturas médias globais, o crescimento dos países pobres cairá de 2% a 3%, enquanto o crescimento previsto nas nações ricas continuará igual.

Por isso, sustentou que as emissões de gases devem diminuir, mas sem que isto ameace o crescimento dos países em desenvolvimento, suas necessidades cada vez maiores de energia e seus objetivos de redução da pobreza.

“Quero enfatizar que é inaceitável que a comunidade internacional pense em congelar o atual nível de desigualdade, enquanto se resolve o assunto da mudança climática”, disse.

Kozul-Wright disse que, para que os países pobres passem a um padrão de desenvolvimento sustentável, os países desenvolvidos terão que mostrar em relação a eles “um nível de solidariedade que raramente se viu fora de tempos de guerra”.

Além disso, o especialista da ONU lamentou que o maior conhecimento científico sobre a mudança climática e a divulgação destes à opinião pública não tenham tido impacto positivo nos países ricos, que “seguem descumprindo suas promessas de financiamento e de transferências de tecnologias limpas ao mundo em desenvolvimento”.

O especialista defendeu também a ideia de que “o financiamento para enfrentar a mudança climática deve refletir a responsabilidade histórica” dos países desenvolvidos.

Sustentou que, no mundo em desenvolvimento, “atualmente não há grandes emissores de gases” e explicou que, quando se fala da China, por exemplo, se omite mencionar que as emissões deste país são equivalentes às dos Estados Unidos antes da Primeira Guerra Mundial.


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ONU prevê até US$ 600 bi anuais para fazer frente à mudança climática