A ONG inglesa Survival, que atua em defesa dos direitos dos povos indígenas, criticou nesta quinta-feira os responsáveis pelo polêmico filme Hakani (2008), entre eles o cineasta David Cunningham, por incitar o ódio contra os índios. Segundo a entidade, o filme, que é baseado na história real de uma criança indígena brasileira enterrada viva por sua tribo, é um “falso” retrato da comunidade indígena. Hakani já obteve mais de 350 mil acessos no portal de vídeos YouTube.
Na nota, divulgada por ocasião da celebração no próximo sábado do Dia da ONU para a Eliminação da Discriminação Racial, o diretor da ONG, Stephen Corry, afirma que “o filme se baseia em algo que diz ocorrer rotineiramente nas comunidades indígenas, mas que não acontece” realmente.
“O infanticídio amazônico é pouco frequente. Quando ocorre, se trata da decisão da mãe e não é tomada de forma superficial. É feito de forma privada e secreta, e frequentemente é considerado vergonhoso, certamente trágico”.
De acordo com a Survival, David Cunningham, diretor da fita, é “filho do fundador de uma organização missionária fundamentalista americana chamada ‘Jovens com uma missão’, que tem uma filial no Brasil conhecida como Jocum”.
Corry acredita que o filme é “parte da campanha dos missionários para pressionar o Governo brasileiro a aprovar uma polêmica lei conhecida como ‘Lei Muwaji'”.
Segundo a Survival, essa lei forçaria os cidadãos brasileiros a informar às autoridades sobre tudo aquilo que possa ser considerado como “prática tradicional prejudicial”.
A ONG denuncia que essa lei daria origem a uma “caça às bruxas”, faria o Brasil “retroceder séculos” e poderia provocar uma “ruptura social”.
O comunicado termina dizendo que “a Survival acredita que as práticas culturais devem ser baseadas no livre e bem informado consentimento de todos os participantes e que o infanticídio é errado”.