O fim do Ira! não significou o início de uma vida de sombra e água fresca para Nasi. Pelo contrário: após o rolo que resultou em um processo de interdição contra ele movido por seu pai, Airton, e por seu irmão e ex-empresário, Airton Júnior que ainda está vivo nos tribunais , o cantor está trabalhando mais que nunca. Sua mais nova empreitada é o cinema: em sua estreia como ator, ele interpreta o viciado Castro no filme Sem Fio, de Tiaruju Aronovich, que está sendo exibido na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que vai até 5 de outubro.
Além de estar nas telonas, o ex-vocalista do Ira! também comenta futebol no rádio (no programa 90 Minutos, da emissora Kiss FM) e na televisão (no Bola na Rede, da Rede TV!), segue fazendo shows Brasil afora e está em fase de produção de seu primeiro DVD-solo Ao Vivo Na Cena, que deverá ser lançado logo após o Carnaval do ano que vem.
Em entrevista ao Virgula, o cantor fala sobre sua primeira experiência no cinema e seus outros projetos. Também dá sua visão para o fim do Ira!, com direito a comentários irônicos sobre seus ex-companheiros de banda e o objeto da ação movida por seus familiares: o fato de, supostamente, estar passando pro graves problemas psicológicos. Eles ainda acham que estou insano (risos), afirmou. Leia abaixo a íntegra do papo!
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Nasi, essa foi sua primeira experiência como ator?
Em 2006, o (ator) Selton Mello me chamou pra fazer um personagem em um quadro no Tarja Preta [programa que apresenta no Canal Brasil]: era um bartender, um personagem meio Tony Soprano. Além disso, os videoclipes que ele dirigiu para o Ira! e para a minha carreira-solo, como Flerte Fatal e Corpo Fechado, tinham uma linguagem bem cinematográfica, então também considero experiências nesse sentido.
E como surgiu o convite para atuar?
O Tiaruju [Aronovich] pretendia trabalhar com um não-ator, um cantor de rock que tivesse certo estereótipo, mais atrevido. Tanto que ele também pensou no Lobão. Para compor o personagem, usei alguns aspectos da minha vida, como o fato de ter sido dependente químico de cocaína. Mas não sou tão niilista como ele (risos). O curioso é que também participo de outro filme da mostra: Natimorto, no qual fiz a locução da voz do pensamento obsessivo do personagem principal.
Você já tinha imaginado ser ator? Vai continuar nessa carreira?
Eu sou um cinéfilo. Coleciono e vejo várias vezes os filmes que gosto. Foi uma experiência legal e posso, sim, repetir, desde que seja num filme que fique interessado em ver, que me dê bem com o diretor e tenha liberdade para construir o personagem. O meu parâmetro é o [cantor, compositor e ator americano] Tom Waits, que tem experiências com o cinema e faz personagens que têm a ver com a estética da música dele. Mas não vou ter agente nem nada, até porque brinco dizendo que o cinema não pode me dar o dinheiro que a música dá (risos).
Você também está trabalhando em programas de futebol no rádio e na televisão…
Isso aí vem mais da minha paixão pelo rádio. Se não estivesse falando sobre esse assunto, arrumaria outra desculpa. Até queria ter um daqueles programas de madrugada em que o locutor conversa com as pessoas. O futebol é, para mim, uma metáfora da vida. Gosto mais de falar sobre bola do que sobre música. E, por causa do estilo que eu e o Ronaldo [ex-goleiro do Corinthians, comentarista e companheiro de Nasi nos dois programas] empregamos na Kiss FM, a Rede TV! acabou me chamando. É bom porque quebra um pouco essa associação, que é mais que justa, do futebol com o samba: afinal, roqueiros também jogam bola! (risos).
E como está sua carreira musical?
Estou produzindo, também com o Tiaruju, meu primeiro DVD-solo. Gravei ao vivo no estúdio, mas sem público. A mixagem será do [produtor americano] Roy Cicala, que foi dono do importante estúdio Record Plant, em Nova York, e produziu sete discos do John Lennon. As filmagens serão em alta definição e vamos colocar uma linguagem a cinematográfica nas imagens, em termos de enquadramentos, luzes etc.
Quando ele vai ser lançado?
Pretendo que ele saia após o Carnaval. Vou começar a abrir conversas com gravadoras e TVs de música, mas também posso lançá-lo de forma independente. São 16 músicas: duas inéditas, três regravações do Ira! e um repertório vasto, que vai de Eddie a João Bosco, passando por Picassos Falsos, Cazuza e outros. Pode parecer muito eclético (risos), mas tem a cara da minha banda, é um formato de rock bem consistente.
Ator, cantor, produtor, comentarista esportivo no rádio e na TV… Por mais traumático que tenha sido, o fim do Ira! te possibilitou trabalhar em vários outros projetos, não?
É claro que eu não queria que a coisa fosse daquela maneira, mas a coisa estava limitante. Eu queria ser mais senhor do meu tempo. O Edgard [Scandurra, ex-guitarrista da banda] também concordava com isso. Se a relação entre nós estivesse boa, ainda valeria a pena, mas não estava. O problema é que o dinheiro falou mais alto. Por circunstâncias de vida filhos em colégios caros, bodas de casamentos (risos) eles decidiram continuar no empregão. Para mim, que tenho um estilo de vida mais outsider, aquilo tudo não servia mais. E foi nessa necessidade de tirarmos férias do Ira! e de nós mesmos que percebi um monte de coisa errada lá.
E como anda esse rolo todo, com processos e tudo mais?
Eles até tentaram até me interditar na Justiça, mas não deu certo (risos). Obviamente, depois de fazer todos os testes [psicológicos], o processo foi considerado improcedente. Mas aquele que se diz meu irmão e meu pai, a quem nunca mais vi e nem falei espero que ele esteja vivo, até porque vamos nos sentar numa mesa de tribunal, pois estou lhe movendo um processo por danos morais estão recorrendo, então ainda acham que estou insano (risos). Fico imaginando os senhores desembargadores me assistindo na Rede TV!, nos shows, e pensando: puxa vida, se ele é insano, então deve ser o insano mais competente que existe (risos)!