Quando pensamos em grandes bateristas, com certeza nossas maiores referências são homens: no rock and roll, Keith Moon, do The Who, Ian Paice, do Deep Purple, Neil Peart, do Rush, e John Bonham, do Led Zeppelin, são alguns dos nomes que vêm à mente quando pensamos em grandes nomes da história do instrumento.
Aos pouquinhos, porém, as meninas mostram que estão tomando o gosto pelas baquetas. Os números ainda não são expressivos, como mostram duas das principais escolas de música de São Paulo – no Souza Lima, a média de alunas é de 10 por unidade; na EM&T (Escola de Música e Tecnologia), há 125 alunos de bateria, sendo que apenas 11 são do sexo feminino -, mas o número de mulheres que descem a mão em peles e pratos em bandas conhecidas é cada vez maior.
Na nova geração do rock brasileiro, há pelo menos três grupos que estão na linha de frente e contam com bateristas mulheres: Lipstick, Agnella e Scracho, que têm respectivamente Tila Granda, Paloma Oliveira e Débora Teicher no comando da seção rítmica. Delas, o principal destaque vai para Débora, mais conhecida como Dedé, que foi indicada ao Prêmio Multishow deste ano na categoria de melhor instrumentista.
Guerreiras
A baterista Drikat Crash, da banda de rockabilly Henry Paul Trio, queria tocar bateria desde os 16 anos. Entretanto, não teve oportunidade de experimentar de verdade o instrumento antes de entrar na banda, em que trabalhava anteriormente como… empresária.
Eu cuidava dos negócios da banda e estava vendo como era difícil de encontrar um baterista competente para tocar rockabilly. Daí, resolvi me arriscar, conta ela, que afirma que não começou às cegas. Faço aula há cinco anos e acho que está rolando muito bem. A questão toda é se esforçar para aprender a técnica, completa.
Crash afirma que, em pleno século 21, ainda sofre muito preconceito por tocar bateria. Ainda há muita resistência por parte do público machista. Mas o problema não é só com bateristas, e sim com qualquer mulher que esteja no mundo da música, garante.
O mesmo sentimento é compartilhado por Nina Pará, da banda de heavy metal Illustria e da banda de pop-rock Lacme, que afirma ser discriminada mesmo sendo professora de bateria. As pessoas acham que tocar bateria é algo masculinizado. Uma vez me candidatei a uma vaga de professor de bateria estilo rock. Você acredita que o responsável me falou que eles não aceitavam mulher?, conta ela, indignada. Sempre que faço algum show, as pessoas olham fixo para ver se tenho capacidade.
Paloma Oliveira, do Agnella, também reclama de machismo no mundo da música. Ser musicista sempre vai ser complicado, porque já pensam que a gente é pior do que os homens que fazem as mesmas coisas, conta ela.
Diferenças
Embora haja consenso quanto ao forte preconceito contra mulheres na bateria, o mesmo não se dá quando a questão é se existe ou não diferença entre o jeito de tocar de meninos e meninas.
De acordo com Drikat Crash, isso não existe de jeito nenhum. É ridícula essa coisa de que mulher toca diferente de homem, ou que homem tenha mais força e tal. Tocar bateria não é questão de ficar dando porrada, é técnica. Não tem nada a ver com força, opina.
Já Nina Pará considera que as mulheres contam com a sensibilidade para melhorar sua performance. Tem sim diferença. As mulheres são mais sensíveis do que os homens, principalmente na hora de criar os arranjos, o que ajuda na hora de compor, conta ela. Em questão de pegada, não tem nada a ver, pois toco heavy metal e a força é a mesma, afirma.
A baterista do Lipstick também acha que existem algumas diferenças. O homem tem mais
força e a mulher, jeitinho, conta Paloma, rindo. Mas o que importa
mesmo é que a gente manda bem na batera, completa.