Veja aqui a galeria de fotos do show, pelo fotógrafo Ariel Martini

Na época do lançamento de seu álbum mais recente, Wait For Me, o músico e produtor Moby deu a entender que seus trabalhos anteriores haviam sido criados de olho na indústria – e que este, finalmente, seria uma obra que reflete seu verdadeiro amor pela música, aquilo que sempre quis fazer.

Esqueça tudo isso na hora de assistir a um show da atual turnê do cantor. Toda a introspecção, a melancolia e a atmosfera soturna de Wait For Me se transformam em uma verdadeira pista de dança – já que, como o produtor deixou bem claro, a intenção é se divertir com os clássicos e deixar um pouco de lado o repertório novo. E o público, seguindo a cartilha do músico, balançou as mãozinhas e seguiu com alegria o bonde farofa guiado por Moby.

Como já havia adiantado em diversas entrevistas, o produtor resolveu deixar completamente de lado as músicas intimistas de Wait For Me para apresentar no Brasil um mix com os maiores clássicos de sua carreira, criando um show que, embora não de música eletrônica, tinha como objetivo básico fazer o público dançar e pular sem parar. Para isso, o músico contou com o apoio de uma banda competente, formada por uma vocalista, uma violinista, uma baixista e um baterista, que se encarregou de trazer peso para as músicas mais calmas.

Moby chegou caprichando na fanfarronice – empunhando uma bela guitarra, o produtor iniciou o show por volta das 23h20, pulando sem parar de um lado para o outro do palco e clamando pelas palmas do público. Faixas como In My Heart, Bodyrock, Go, Raining Again, Disco Lies e The Stars levantaram o público do Credicard Hall, que dançou como se estivesse na balada (as coreografias, aliás, iam do balançar de dedos até performances hilárias que pareciam coreografias de Embalos de Sábado a Noite).

Entretanto, mesmo tendo escolhido apenas três músicas de seu novo álbum para o repertório – Pale Horses, Seated Night e Mistake – ficou impossível não perceber como tais canções ficaram inadequadas dentro da atmosfera do show. A belíssima Pale Horses, por exemplo, ficou absolutamente deslocada em meio ao set dançante apresentado por Moby – e, convenhamos, é no mínimo esquisito ver uma música triste como essa (Me coloque na janela/Deixe-me ver o exterior/Olhe só os lugares nos quais a minha família morreu) tocada em um clima de balada em meio a diversos copos de vodka com energético.

Mesmo que os hits dançantes tenham conquistado com facilidade a plateia do Credicard Hall – segundo a assessoria de imprensa do evento, o público somava cinco mil e quinhentas pessoas -, era impossível não perceber que, durante todo o show, Moby apostou exatamente nas mesmas batidas. Ok, o produtor foi de momentos mais intimistas a uma leve incursão em bases do hip hop (brevíssima, aliás), techno e, obviamente, apostando alto no dance farofa, mas tudo isso exatamente com as mesmas batidas, fazendo com que tal linearidade desse uma sensação de repetição incômoda.

Se em Wait For Me Moby quis se libertas das amarras de seu passado e celebrar a beleza da melancolia, a turnê do álbum aponta para uma necessidade muito mais imediata – Moby quer mesmo é se divertir. Ele é do povão – quer cantar, gritar, balançar os braços e receber os aplausos. Desejo justo, considerando que o músico tem ótimos álbuns em seu currículo. E a plateia correspondeu com perfeição a esse desejo, acolhendo o produtor de braços abertos. Resta saber até que ponto os clássicos, tocados da mesma forma, vão garantir o futuro da música de Moby.


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Moby esquece álbum novo e toca só clássicos para uma plateia satisfeita no Credicard Hall

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