Milhões de judeus de todo o mundo, sejam religiosos ou seculares, celebram hoje o início do ano 5770 segundo o calendário hebreu, com cerimônias tradicionais e comendo alimentos que simbolizem boa sorte e fertilidade.

 

Um dos principais costumes da data, que é lembrada por dois dias a partir do anoitecer de ontem, é fazer soar o “shofa”, um dos instrumentos musicais mais antigos da humanidade, feito com um chifre retorcido, geralmente de carneiro. Nessa ocasião, porém, o shofar esteve ausente das celebrações, que coincidem com o “shabat”, dia sagrado do judaísmo, no qual é proibido tocar música.

A mistura de ambas as datas deixou Jerusalém em um ambiente incomum, com as cafeterias fechadas e as ruas vazias, ao contrário de outros shabat.

 

O novo ano (“Rosh Hashaná”, em hebraico) é celebrado dois dias antes do começo do mês hebraico de “tishrei”, segundo uma tradição que data de 4.500 anos atrás, quando era anunciada de Jerusalém para todas as comunidades por meio de fogueiras.

Sua chegada representa o início dos “Yamím Noraím”, um período de dez “Dias Terríveis” que culminará na jornada mais sagrada do calendário judeu, “Yom Kippur”, na qual Deus decide quem serão inscritos no “livro da vida” e reina o silêncio nas ruas de Israel.

Por essa razão, a partir de amanhã os judeus religiosos se cumprimentarão com a frase “Gmar hatimá tová” para desejar ao próximo um espaço no livro do todo-poderoso, em linha com a tradição.

 

Muitos judeus se deslocam também no Rosh Hashaná aos mares, rios ou mananciais para “se desfazer dos pecados e imoralidades” do ano que chega ao fim. Os ultra-ortodoxos começam um período de rezas e longas horas na sinagoga em que refletem e buscam a expiação dos pecados do ano anterior.

 

Pelo contrário, entre os israelenses seculares se costuma viajar, aproveitando um período de pausa que se estende até “Sucot”, a “Festa dos Tabernáculos”, que este ano cai em 3 de outubro.

Muita gente tende a fazer nos últimos dias “heshbón nefesh” (exame de consciência) e pedir perdão aos amigos e parentes que acreditam ter prejudicado durante o ano 5769.

 

O Rosh Hashaná não é, no entanto, uma data triste, e sim festiva, em que se encerra as refeições com maçãs embebidas em mel – para que o novo ano seja doce – e outros alimentos símbolo de boa sorte e fertilidade, como abóboras, grãos-de-bico e alho-poró.

 

Como acontece nos dias prévios ao ano novo nos países cristãos, o povo se deseja felicidade, prepara grandes jantares com a família e compra presentes.

 

Desde o início do mês, as vitrines das lojas estão cheias de cestas com presentes coroados às vezes com maçãs e frascos de mel.

O novo ano não começa, no entanto, com grandes esperanças no plano político, sobretudo depois que ontem o enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, George Mitchell, abandonou a região após cinco dias de intensa atividade diplomática sem ter conseguido que israelenses e palestinos aceitassem dialogar.

 

Mitchell pretendia trazer as duas partes de volta à mesa de negociações com um simbólico encontro – que agora tem poucos indícios de que vá prosperar – entre os líderes políticos de EUA, Israel e dos palestinos.

 

Assim, embora o ano 5570 comece sem perspectivas de uma paz próxima, as pessoas desejam entre si “Shaná tová ve metuká”, um ano bom e doce.


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Milhões de pessoas pelo mundo celebram ano novo judaico

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