Com o Orkut sendo, disparado, a maior rede social do Brasil, fixar e popularizar uma dessas por aqui não é fácil. Que o diga o povo do MySpace. Curiosamente, uma “social network” que não para de crescer no País, e até já tem mais usuários do que o próprio Facebook no território tupiniquim, é uma brasileira, voltada para a criançada: o Migux.
Criada pela empresária Anna Valenzuela, o site conta com 2 milhões de usuários cadastrados. Ele é uma mistura de rede social com game, em que os pequenos internautas criam avatares (peixinhos), escolhem uma casa para viver e tem de acumular conchas – o dinheiro local – por meio de minijogos para mobiliar a residência aquática. Além disso, a garotada é estimulada a gerar conteúdo dentro da rede, podendo criar desenhos e blogs dentro do serviço, ao mesmo tempo em que aprendem a cuidar do meio ambiente.
Em pleno Dia da Criança, batemos um papo com a Anna, que mostrou para a gente como é criar uma ferramenta de sucesso para essa geração de nativos digitais cada vez mais exigentes.
De onde veio a ideia de criar o Migux, Anna?
Trabalhando há dez anos com internet, como editora da primeira página do Uol, consultora de interatividade e diretora de produtos na Brancaleone, sempre fiquei intrigada com a falta de produtos e conteúdos online para crianças. Justamente os nativos digitais tinham poucas opções interativas na web. Curiosamente, estamos falando de um público que, exatamente por ser tão íntimo das novas mídias, é o mais exigente em relação a essas novidades. Com o tempo fui amadurecendo a ideia de uma rede social totalmente desenvolvida para a “geração 2.0”. Uma rede com ferramentas que atendesse às expectativas desses produtores natos de conteúdo. Desenvolvemos o Migux na Brancaleone, empresa da qual sou sócia com outros três veteranos da web: João Ramirez, Antônio Graeff e Carlos Freitas.
Quais os números por trás do site e qual é o seu perfil?
Estamos chegando aos 2 milhões! O Migux tem cerca 600 mil usuários ativos e picos de 2.500 participantes simultâneos. Todos os números do Migux são espantosos, inclusive pra gente. Temos neste minuto 783.590 desenhos feitos pelas crianças usando a ferramenta de desenhos do Ateliê do Migux, um verdadeiro hype deste mundo virtual. O perfil de idade é: 5% até cinco anos; 48% de seis a dez anos; 35% de 11 a 15 anos; 7% de 16 a 20 anos e 5% acima de 21. Em relação ao sexo, 55% de meninas e 45% de meninos.
Quais as dificuldades de se criar uma rede social no Brasil? Em especial, para a criançada?
No Brasil, temos profissionais muito talentosos, porém raros. Não é fácil encontrá-los. Além disso temos um publico que, por ser heavy user (é primeiro lugar mundial em tempo de permanência na internet), é muito exigente. Está sempre querendo mais e mais. Isto começa como uma dificuldade, mas acaba se tornando um laboratório incrível para o produto, o que é muito bom.
O que o internauta mirim procura hoje numa rede social? Como não torná-la muito infantil, que o agrida?
(Risos) O internauta mirim, como já disse, é um trator. Quer tudo e mais um pouco. Mas há um elemento fundamental para ele que é ter sua própria criação valorizada. Uma das principais características do Migux, certamente responsável pelo sucesso dele, é exatamente respeitar e alimentar esta necessidade da garotada criar e se expressar. Além disso, uma forma de ser infantil, sem ser chato, é sempre falar a língua deles. E esta língua não é o tatibitati. O Migux tem ironias, “maluquices” e até algumas incorreções políticas – como, por exemplo, jogar bigorna nos amigos! – que conquistam os pequenos. Eu diria que engajamento também é a palavra-chave para uma rede social infantil.
O que diferencia o Migux de outras redes sociais infantis, como o Penguin e o Habbo?
Creio que a diferença esteja no fato do Migux ser uma rede social para os pequenos, com foco em produção de conteúdo pelos usuários. Não investimos pesadamente em games. Outro diferencial do Migux está nas atividades com apelo ecológico, que é a principal temática desta rede. Como “meio ambiente” também faz parte da agenda destes ambientalistas mirins, temos o engajamento da molecada.
Quais as próximas novidades?
Tem uma novidade pintando já no Dia da Criança. Um parque dará uma piscina de bolinhas virtual de presente para os Migux e também irá incentivar a produção de desenhos dando Gotas (uma moeda especial) para quem desenhar durante este mês. Mas tem muitas outras novidades pintando por aí: a abertura da Galeria Maluca, um passeio pelo mundo terrestre, o fim do mistério da bolha do quintal… e por aí vai.
Há bastantes assinantes que adotaram o modelo “premium”? Em um país em que o internauta quer tudo de graça, como motivá-lo a pagar por algo na internet?
O que temos está mais para o chamado modelo freemium, ou seja, muitos participam gratuitamente enquanto uma pequena parcela paga para ter benefícios… Como este público está muito acostumado a pagar para ter os virtual goods (“benefícios virtuais”) em games, o conceito do não há almoço grátis está mais claro para eles do que para os adultos… (risos)