Nos últimos finais de semana, milhares de pessoas foram às ruas das principais cidades do país para apoiar a Marcha da Maconha, que reivindica a descriminalização da Cannabis sativa no Brasil. Apesar de polêmico, o debate sobre a legalização nunca foi tão popular no Brasil.

Com o apoio de professores, advogados, políticos e outras personalidades da sociedade brasileira, o movimento, nascido e organizado através da Internet, saiu dos blogs e fóruns de debate para ganhar os contornos da realidade.

Aos cânticos de “Eu sou maconheiro, com muito orgulho, com muito amor” e “Seu deputado, tenha vergonha, legaliza a maconha”, mais de 2 mil pessoas no Rio de Janeiro manifestaram publicamente o desejo pela descriminalização no último sábado (09/05). A passeata iniciada no tradicional Posto 9 da praia de Ipanema contou inclusive com a participação do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

Além do Rio, aconteceram passeatas em Florianópolis, Recife, Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte. Agora, lutam na Justiça para realizar, até o final de maio, a Marcha em São Paulo, Curitiba, Fortaleza, Goiania, Juiz de Fora, Salvador e João Pessoa.

O Virgula conversou com dois ativistas do Coletivo Marcha da Maconha: o sociólogo Renato Athayde, do movimento no Rio de Janeiro; e o cientista social Marco Magri, de São Paulo.

Questão de Democracia

“O debate precisa ser feito. Isso é a Democracia. Nós queremos ouvir, discutir, debater”, dispara Marco Magri. Em virtude dos problemas jurídicos que a Marcha tem encontrado em diversas cidades, antes até da discussão sobre a legalização da maconha, alguns segmentos do movimento defendem a legitimidade constitucional das passeatas.

Os organizadores argumentam que a liberdade de expressão é um dos pilares da Constituição e que, por isso, não há motivos para a Justiça barrar a realização das passetas. “A própria recente revogação da lei de imprensa foi para garantir a liberdade de expressão. Então, nosso movimento está em plena legalidade”, finaliza Magri.

Messenger e CIA

“Pelo que sei, este é o primeiro movimento social brasileiro organizado pela Internet“, argumenta Renato Athayde.

Oficialmente com menos de dois anos, o Coletivo Marcha da Maconha ainda não tem estatuto e estrutura definidas. “Temos coletivos locais em cada cidade e eles têm autonomia para tocar as iniciativas. Nós conversamos por MSN e ajudamos a organizar os movimentos nos núcleos em formação. Em alguns casos, há cidades com poucos representantes e poucas pessoas influentes que ainda não há nenhum movimento oficializado”, explica Athayde.

“O mais importante é que há um evidente fortalecimento jurídico e intelectual do movimento como um todo”.

Apoiadores da causa

Além do ministro Carlos Minc, a jornalista e sub-prefeita de São Paulo Sonia Francine (a Soninha), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o também ministro José Gomes Temporão (Saúde), o cantor e compositor Gilberto Gil, o desembargador e comunicador Wálter Maierovitch, o Secretário Nacional de Segurança Pública Ricardo Balestreri, e outros, estão entre aqueles que apóiam a desciminalização da maconha, ou seja, o fim da punição ao usuário.

“A postura do ministro (Carlos Minc) foi excelente. A gente só tem a apoiá-lo. É esse tipo de postura que a gente espera de quem é uma personalidade pública e apoia esta causa. Tem muita gente no poder publico e na propria polícia que tem uma outra perspectiva com relação às políticas anti-drogas. O que falta é a coragem pra aparecer, tomar frente disso e dizer o que pensa“, diz Magri.

NYC, 1984

O movimento começou em 1994, em Nova York, quando um grupo de jovens se reuniu no centro da cidade com cartazes e panfletos que expressavam a vontade pela legalização da maconha. Eles mal sabiam que anos mais tarde, em 1999, o conjunto de movimentos ao redor do mundo originaria a Marcha Global da Maconha, tradicionalmente realizada no primeiro domingo de maio. Desde então, mais de 500 cidades estão representadas no movimento.

O primeiro registro da versão brasileira da Marcha ocorreu no Rio de Janeiro em 2002. De caráter informal e restrita a uma ou duas centenas de pessoas, a iniciativa se expandiu através da rede mundial de computadores e ganhou representatividade em outras cidades brasileiras.

Apesar das iniciativas do Ministério Público em barrar o movimento, os defensores da legalização lançaram, em 2008, a Marcha da Maconha em 11 cidades brasileiras, mas apenas em Porto Alegre e Recife foi possível acontecer o encontro (nas outras nove cidades, o Ministério Público proibiu a manifestação).


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Marcha da Maconha: Movimento sai da Internet e mostra a cara nas ruas do país