“O que eu achei mais engraçado é que não vieram perguntar pra mim, o que eu achava da cena”, conta Malu Rodrigues sobre o veto – da atriz menor de idade mostrar o seio na peça -, feito pela Justiça de São Paulo, nesta quinta-feira (08). Em entrevista exclusiva para o Virgula, logo depois da reestreia da peça O Despertar da Primavera, de Franz Wedeking, na noite deste sábado (10), no Teatro do Shopping Frei Caneca, em São Paulo, Malu comentou que achava contraditório ter censura numa peça que fala da liberdade. “A peça foi escrita em 1891, estamos em 2010 e percebemos que não mudou nada”.
Escrita pelo dramaturgo alemão Frank Wedeking, os assuntos abordados não são nada leves como: gravidez e aborto na adolescência, abuso sexual, homossexualidade e suicídio. Precursor do expressionismo, mas ainda dentro da chave do realismo do seculo 19, Wedeking faz uma dura crítica ao cinismo da sociedade burguesa.
Cinismo esse que parece a própria montagem da peça viver hoje com a proibição da Justiça. Malu Rodrigues, ainda com 16 anos (completa 17 no dia 29 de agosto), se emancipou para poder interpretar a personagem Wendla. “Estudei 8 meses para fazer o papel, sabia que tinha uma cena de nudez, mas estava completamente dentro do contexto da peça, não tem nada de exploração”.
Seu amor pelo teatro é forte e começou desde cedo. “Aos 2 anos de idade participei do Especial de 10 Anos da Xuxa, como era loira de olhos claros, no Brasil isso torna tudo mais fácil, e acabei fazendo alguns comerciais”, fala de forma crítica e irônica contra o racismo sutil do país. “Aos 8 anos, entrei na CAL, Casa das Artes de Laranjeiras [famosa escola de teatro do Rio de Janeiro] e logo estreei em a ‘Arca de Noé'”.
Além de proibir a cena, o juiz titular da Vara Central da Infância e Juventude na capital, Adalberto José Queiroz Telles de Camargo Aranha Filho, determinou que Malu deveria ser acompanhada por duas psicólogas que farão um laudo para averiguar se a atriz sofreu – com a peça – algum tipo de dano psicológico. No momento da entrevista, a atriz já tinha conversado com uma das profissionais. “Ela adorou a peça”.
Voltando ao assunto da proibição, Malu diz que ficou “um pouco chateada, pois quem proibiu não viu a cena, é a coisa mais linda do mundo. Não tem nada de pornográfico. Não é a descoberta do sexo e sim, a descoberta do amor”.
Articulada, ela diz que não se identifica com a personagem que engravida na adolescência. “Eu ainda sou virgem”. Mas se a personagem não a reflete, o espírito libertário da peça sim. E opina sobre assuntos polêmicos do musical. “Sou a favor que a mulher escolha se quer ou não abortar. Ela pode morrer nessas clínicas clandestinas ou criar o filho com desprezo, assim como eu acho um absurdo o preconceito contra os homossexuais, as pessoas deve ter o direito de amar quem elas quiserem”.
Por fim, ela lamenta que o seio dela seja – para imprensa – um assunto mais importante que o impacto do musical nos jovens de hoje. Eles se tornam verdadeiros fãs da peça, sabem as letras das músicas, se comovem e percebem que realmente muito pouco mudou de 1891 para os dias de hoje.
SERVIÇO
Despertar da Primavera em São Paulo
Quando: de 10 de julho a 15 de agosto.
Horário: De 10 a 19 de julho: sábado, às 18h; domingo, às 20h; segunda-feira, às 20h30
De 23 de julho a 15 de agosto: sexta-feira e sábado, às 21h; domingo, às 18h
Onde: Teatro Shopping Frei Caneca – Shopping Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569, 6º andar); tel. (11) 3472-2229/3472-2230
Quanto: R$ 70 e R$ 50 (segunda-feira)
Informações: www.ingressorapido.com.br e 4003-1212 (Bilheteria: de terça a sábado, das 13h às 19h ou até o início do espetáculo; domingos, das 13h às 18h ou até o início do espetáculo)