O designer Daniel Motta resolveu aproveitar seu tempo livre para colocar no papel toda a sua paixão por cultura pop e, em especial, pela música. Para passar o tempo, começou a criar pictogramas – desenhos de sinalização, como os de trânsito – baseados em bandas e músicos.

“Comecei por acaso mesmo, fazia desenhos para passar o tempo. E eu sempre adorei a ideia de usar pictogramas, que são imagens que permitem desdobramentos muito criativos. Além disso, a ideia de retratar as bandas nesse esquema foi bom, porque os pictogramas dão uniformidade e impedem que vire uma salada, cada banda retratada de um jeito diferente”, contou Motta.

Assim surgiram os poptogramas, pictogramas que brincam com o nome ou o conceito de bandas conhecidas, como é possível conferir na galeria ao lado. A idéia é tentar adivinhar, pelo desenho, qual é a banda retratada; e a galeria é grande, com artistas como Ozzy Osbourne, Faith No More, Nirvana, Van Halen e Biohazard. “O desafio de juntar essas bandas em pictogramas foi incrível, ainda mais usando uma linguagem tão sintética”, comentou ele.

O projeto cresceu, e em 2005, Motta lançou o Poptogramas em livro, pela editora Altamira. Em 2008, o designer deixou de lado as bandas gringas e lançou uma outra leva de 101 pictogramas, desta vez apenas com artistas brasileiros. A escolha das bandas para ambos os livros, segundo ele, foi tranquila.

“Comecei selecionando bandas que eu gostava. Mas tinha algumas que não dava para deixar passar algum trocadilho com o nome, por exemplo, e eu resolvia fazer mesmo que não gostasse do grupo”, afirmou Daniel, que disse não ter se preocupado se as pessoas iriam reconhecer logo de cara as bandas retratadas nos poptogramas.

“Nunca escolhi as bandas ou fiz os desenhos pensando se as pessoas reconheceriam ou não. Minha intenção era fazer algo legal, que eu gostasse e achasse divertido. A ideia sempre foi fazer algo engraçado, lúdico, uma brincadeira, para as pessoas sentarem com os amigos e brincarem de adivinhar qual é a banda do desenho”, afirmou o designer.

O mote que perpassa todos os poptogramas é o humor – humor este que, muitas vezes, não deixa barato na hora de tirar sarro de alguns artistas, como no pictograma do Nirvana, que traz um boneco com a cabeça sangrando. “Eu amo humor negro. É aquela coisa que eu adoro do seriado Family Guy, de ser politicamente incorreto sem culpa”, comentou Motta, que sente falta de humor mais desencanado no Brasil.

“Eu lembro daquele espaço na antiga revista Blender, que tinha um bolão de quando seu ídolo da música iria morrer. Mas aqui no Brasil hoje, se você fizer uma piadinha dessas, sei lá, com o Lulu Santos, vão cair matando. É pena que não existe espaço para humor negro no Brasil”, opina o autor, que aproveitou para falar sobre os poptogramas censurados em seus dois livros.

“Tive dois poptogramas censurados: o do Roberto Carlos, que no livro saiu o bonequinho segurando as flores, tinha uma perna de pau no desenho original. E o do Rafael Ilha, ao invés de um bonequinho com uma ilha na cabeça, era o Rafael com uma pilha e um isqueiro na barriga (risos)”, conta Motta.

Agora, está em cartaz no Metrô Clínicas até o dia 10 de novembro uma exposição com os principais poptogramas reunidos nos dois livros – quem for conferir o evento, aliás, poderá ver os dois desenhos censurados citados por Daniel Motta.

Exposição Poptogramas

Quando: até dia 31 na estação Clínicas; em novembro, na estação Santa Cecília; e em dezembro, na Luz
Onde: Estação Metrô Clínicas – Av. Dr. Arnaldo, 555
Quanto: gratuito


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