Os líderes do Grupo dos Vinte (G20, os países ricos e os principais emergentes) têm a partir deste sábado o enorme desafio de começar a implantar a nova ordem mundial que definiram na cúpula de Pittsburgh, mas com a dificuldade de não ter detalhes precisos nem capacidade de pressão uns sobre os outros.

O G20 é um grupo amplo que reúne os países mais industrializados do planeta e vários emergentes, como Brasil, China e Índia, com interesses díspares, e que toma as decisões por consenso, não por maioria.

Para muitos analistas, Pittsburgh foi uma conquista clara, porque foi aprovado um programa de medidas amplas, que abrange das remunerações dos bancos até os subsídios para os combustíveis fósseis e o sistema de voto no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Há medidas imaginativas, como o estudo de uma taxa sobre as transações financeiras, similar à taxa Tobin, proposta em 1971 pelo Nobel da Economia James Tobin para taxar o fluxo de capitais no mundo, mas, neste caso, destinada a financiar o resgate público dos bancos.

Esta é uma das medidas que teve melhor recepção entre as ONGs, como a Oxfam, que acredita que os recursos obtidos servirão também para ajudar os mais pobres e os que mais sofreram o impacto da crise, disse um de seus representantes, Max Lawson.

Mas uma das grandes conquistas da cúpula de Pittsburgh é o avanço para esta nova arquitetura de diplomacia suave qualificada como “nova ordem mundial”, onde os grandes contam tanto quanto os pequenos, onde não se busca mais formar blocos de pressão, mas alianças globais, e onde existe respeito aos diferentes sistemas políticos e de mercado.

A presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, disse ontem que esta cúpula revela que a “nova ordem mundial” não é um projeto, mas já está se formando, diante da influência crescente dos países emergentes.

“Depois da Segunda Guerra Mundial, os países em vias de desenvolvimento eram considerados simplesmente fornecedores de matéria-prima ou de produtos com pouco valor agregado. Mas isso começou a mudar com o surgimento de novos atores que não só agregam um alto valor a seus produtos, mas também mão-de-obra em massa”, disse.

Porém…

Para os mais críticos, os acordos do G20 partem com grandes debilidades. O principal problema é que as medidas aprovadas na cúpula são propostas para serem realizadas em um prazo determinado, sem muitos detalhes de como implementá-las.

Um dos mais significativos é o compromisso para que os países ricos cedam 5% de sua capacidade de voto aos países emergentes que estão sub-representados no FMI, uma proposta ambiciosa que abrirá um duro processo de negociação nos próximos meses.

Outro ponto importante são os limites às remunerações bancárias, mas deverá ser cada país o responsável por impor medidas, segundo sua opinião, e de maneira não iminente.

Em matéria energética, os países se comprometem a eliminar os subsídios aos combustíveis, mas não há nenhuma data limite definida.

Outro problema dentro do G20 é que não existe no grupo um órgão capaz de impor pressão para as reformas nem de “puxar a orelha” dos países que não cumprirem.

Segundo o estipulado na cúpula, os membros se reunirão periodicamente para rever os avanços e ver se são necessários determinados ajustes, enquanto os técnicos do FMI ajudarão com as análises econômicas pertinentes.

O grupo tentará promover suas reformas respaldado por sua autoridade moral, não pela capacidade de impor sanções aos que descumprirem com o programa, o que lhe diminui força.

Segundo o professor da Universidade de Maryland Peter Morici disse ao diário The Wall Street Journal, “sem capacidade de sanções, este acordo não significa nada. Os países se limitarão a discutir as mudanças e a fazer declarações”.

Sobre a mesa, estão os exemplos de outras entidades, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que também se movimenta por consenso e que, segundo alguns críticos, é pouco efetivo.


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Líderes do G20 enfrentam desafio de criar nova ordem mundial