Cantora, compositora, guitarrista e produtora respeitada e atuante na música brasileira desde os anos 80, Laura Finocchiaro acabou ficando conhecida do grande público nesta década por uma função inusitada: responsável pela trilha sonora de reality shows na TV aberta.

Desde a primeira edição da Casa dos Artistas, do SBT (2001), a gaúcha ganhou fama por sonorizar as situações vividas pelos “personagens” dos shows da vida real com músicas tão diferentes – de Pixinguinha a Arctic Monkeys e The Strokes, passando por Cartola e Tom Waits – quanto inimagináveis. Só para citar um exemplo: em seu atual trabalho, a edição 2 de A Fazenda (Record), o clássico gótico Bela Lugosi’s Dead, do Bauhaus, ilustrou um animado jogo de vôlei na piscina da casa.

O estilo eclético e divertido de Laura lhe rendeu, mais que convites para criar trilhas sonoras de cinema, TV, moda e outras áreas, o orgulho de ter servido como inspiração para todos os reality shows exibidos na TV brasileira após Casa dos Artistas 1 – inclusive, o Big Brother Brasil, que ousou mais nesse aspecto a partir de sua segunda edição, de 2002.

Em entrevista ao Virgula, ela fala sobre seu trabalho em A Fazenda 2, explica qual método usa para selecionar as músicas e garante não ter restrições para decidir o que vai em cada cena, seja da direção da Record ou de algum estilo musical. “Não há preconceitos de gêneros. Não tenho nada contra sertanejo ou pagode, desde que a música tenha qualidade”, assegura. “Busco apenas artistas que têm sangue nas veias.”

Quais são os critérios para escolha das músicas? Você trabalha nisso sozinha ou com a direção geral do programa e da emissora?
Trabalho com a supervisão direta do Rodrigo Carelli, diretor geral do programa, que domina a linguagem do audiovisual e sabe a importância da trilha sonora num programa como esse. O critério é simples: música de qualidade, tanto na composição como no arranjo e na sonoridade.

Você assiste os capítulos editados e depois coloca o som ou tudo é feito de forma conjunta?
Depende do dia. Nos videotapes especiais, desafios e programas ao vivo, posso trabalhar com alguma antecedência. Nos programas diários, é tudo feito de forma conjunta. Mas, em geral, deixo sugestões de trilhas para situações conforme as coisas vão acontecendo, no dia-a-dia. O ritmo é acelerado, muita velocidade. É um reality show e, por isso, fascinante.

Você usa músicas que, normalmente, não seriam ouvidas em uma emissora popular como a Record: Bauhaus, Portishead… A ideia é atrair um público mais alternativo para o programa ou apenas criar um bom complemento para as cenas?
Coloco músicas adequadas às cenas, livres de amarras e preconceitos. Vou de Pixinguinha a Transmissions, Jussara Freire a Gal Costa, Chico Science a Craig Armstrong. A direção do programa me apoia para que eu possa ousar a cada edição. Estamos quebrando paradigmas e colocando desde sons independentes até sucessos como ABBA em ritmo folk. Toquei a impressionante marca de 1900 músicas em 3 meses de A Fazenda 1. É um recorde.

Você tem uma biblioteca prévia de músicas ou não tem limites para suas pesquisas? É tudo de acervo pessoal? Costuma baixar música para isso?
Não tenho limite e pesquiso sempre, de artistas novos que não conseguem espaço na mídia até grandes sucessos populares. Faço questão de comprar os CDs, mas uma parte vem de artistas e de gravadoras. Pesquiso na Internet para fazer a sincronização do programa, mas ainda costumo manter o saudável hábito de ouvir um CD, visitar uma loja, de conhecer e ficar aberta a novas canções.

Sonorizar um reality show é diferente de sonorizar uma trilha de cinema ou teatro? Quais são as diferenças?
Já fiz trilhas para desfiles da Glória Coelho, Lino Vilaventura e Reinaldo Lourenço. Já fiz trilhas de teatros e cinema, como o filme Onda Nova e Contratodos. Fiz músicas para a TV Colosso e a Fazenda 2 é o 12º reality show em que assino a trilha sonora. Creio que é um trabalho único na TV brasileira, pois ele é feito 24 horas por dia, com todas as surpresas associadas a um programa deste tipo. Exige obsessão e dedicação.

Que tipo de som é infalível pra trilha sonora de um reality show?
Não aceito fórmulas e receitas prontas. Claro que músicas conhecidas do público sempre cativam. Neste sentido, qualquer hit poderia até ter efeito, mas um programa não se sustentaria muito tempo com fórmula pronta.

Há algum tipo de música que simplesmente não tem como usar?
Sim, todas as que são malfeitas e mal produzidas. Não há preconceitos de gêneros, desde que a música tenha qualidade. Mas não reproduzo um modelo das rádios meramente comerciais. Por isso, recebo retornos de pessoas de todo o Brasil que se sentem vistas e contempladas com sotaques e ritmos deste imenso país, sem deixar as antenas desligadas para as músicas produzidas no Exterior.

Há diferenças, no que diz respeito ao seu trabalho, entre a primeira e a segunda edição da Fazenda?
Sim, estamos no verão. Tudo mudou. Cores, astral, ritmos. É a estação da alegria e da liberdade. Não poderia fazer uma trilha igual. E lembre-se: teremos o Natal e o Ano-Novo, pela primeira vez, ao vivo, na tevê, em datas emotivas e marcantes.

O perfil dos participantes interfere na trilha sonora? Como?
Claro que sim. Cada pessoa é uma trilha. Estudo cada um deles, com a mesma paixão de um escritor que cuida de seus personagens.


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Leia entrevista com Laura Finocchiaro, responsável pela trilha sonora de A Fazenda

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