Lulu Santos – Singular
Por mais que você possa detestar Lulu Santos como pessoa – e, dada a quantidade de bobagens que ele costuma dizer, motivos não faltam para isso – duas coisas são inegáveis: a) é um ótimo guitarrista e compositor de rara sensibilidade pop; b) sempre foi inquieto, recusando-se a seguir a fórmula de seus grandes sucessos para investir, bem ou mal, em outros estilos musicais. E, quando essas duas características se juntam, o resultado é um disco redondinho como Singular, primeiro dele pela EMI.
Nessa compilação de 11 músicas, ele arquitetou ao lado do tecladista Hiroshi Mizutani, com quem coproduziu o disco, uma espécie de comeback de seu bom e subestimado CD Popsambalanço e Outras Levadas (1989), no qual investiu em uma fusão de samba e baterias eletrônicas. Tal mistura traz ótimos resultados tanto na primeira quanto na última faixa, as instrumentais Spydermonkey e Restinga, que podem muito bem servir de trilha para algum lounge modernoso por aí.
Nas músicas com vocais, com mais variedade de ritmos, Lulu também se sai bem. Singular traz momentos bem interessantes: a faixa-título, quase um jazz de cabaré, a balada pop Duplo Mortal, a ótima releitura bossa nova de Black and Gold, do cantor Sam Sparro. Bem radiofônicos, o sambinha Procedimento e o bolero Fúlcio também são simpáticos.
A receita desanda em poucas músicas, não por acaso aquelas em que o cantor flerta com o funk carioca: a pior delas, a versão de Zazueira, de Jorge Ben Jor e imortalizada na voz de Wilson Simonal. Mas, no geral, Singular é inspirado e cumpre a função de reabilitar Lulu Santos como um dos principais hitmakers do pop brasileiro. (Denis Moreira)
Creed – Full Circle
O começo pesado de Full Circle, primeiro disco desde a pausa que o Creed fez em 2004, dá pistas falsas sobre o quarto álbum da banda americana. Com menos de dez segundos de audição de cada música, dá para sacar que hits anteriores como Higher, With Arms Wide Open, My Sacrifice e Don’t Stop Dancing são bem mais leves e acessíveis do que as duas primeiras deste novo trabalho: Overcome e Bread of Shame.
A escolha de Overcome como single para o anúncio da volta do quarteto parecia deixar ainda mais claro: sem chance de baladas pós-grunges com dedilhados mil e vocal tão anasalado quanto afetado, tudo perfeito para clipes de gosto duvidoso e a performance teatral do vocalista Scott Stapp. Mas não é bem assim. Todas as outras novas faixas do Creed poderiam ter sido gravadas pelo Nickelback. Nem o mais ardoroso fã notaria.
É missão difícil escutar o CD inteiro sem pular faixas como Away in Silence e On My Sleeve. Único produtor de Full Circle, Howard Benson usa tudo o que aprendeu com P.O.D., Papa Roach, Crazy Town, Daughtry, Hoobastank e outros grupos do gênero.
“Rain” abre com as mesmas camadas de violões dos outros sucessos e traz refrão bobinho como os que a banda costuma criar: “Sinto que vai chover deste jeito por dias / Então deixa chover e limpar tudo / Espero amanhã o raiar do sol / Com todo amanhã vem uma nova vida“. Pior do que a música, apenas o clipe. Só piora. (Braulio Lorentz)
Anahí – Mi Delirio
Anahí, 26 anos, ainda vive da fama que conseguiu nos tempos de Rebelde, novelinha teen vinda do México e um dos maiores fenômenos entre adolescentes dos anos 00. Mas as músicas que a cantora mexicana inclui em seu quarto trabalho-solo, Mi Delírio, pouco têm a ver com o RBD. Há baladas pueris como as da dobradinha Hasta que Llegues Tu, com várias derrapadas no vocal, e No Te Quiero Olvidar; além da melosa Te Puedo Escuchar, mais contida e bonita do que as outras.
De resto, Anahí se cerca de batidas como a da faixa-título, escolhida como primeiro single. É o melhor momento da parceria da cantora com Gilberto Cerezo e Ulises Lozano, do Kinky. Também mexicanos, a banda já apresentou sua mistura de cumbia e música eletrônica na edição de 2004 do Tim Festival e tocou para uma plateia bem mais descolada do que a dos fãs de Rebelde.
Afetada como divas que cantam em inglês, Anahí não dá conta de segurar a onda em canções como Me Hipnotizas, com letra da barraqueira Gloria Trevi e arranjo do Kinky. Muito mais à vontade na parte mansa do disco, a cantora é nocauteada pelas batidas das faixas mais dançantes.
Com exatamente o mesmo repertório, uma cantora com o mínimo de talento ou uma Shakira da vida teria lançado um álbum bom para as pistas e minimamente audível. Él Me Mintió traz sintetizadores espertos, mas a gritaria (Anahí soa como um T.A.T.U. destrambelhado) atrapalha qualquer boa intenção. Pensando bem, uma volta do RBD não seria um mau negócio. (Braulio Lorentz)