Ben-Hur, de William Wyler, protagonizado por Charlton Heston no papel de um aristocrata judeu que é traído por seu amigo romano, completa nesta quarta-feira (18) meio século de estreia nos Estados Unidos.
Há filmes que ficam para a história e o épico Ben-Hur é um deles. Foi o filme que ganhou pela primeira vez 11 Oscars, a mesma quantidade conquistada por Titanic (1997) e O Retorno do Rei (2003), parte da saga O Senhor dos Anéis.
O filme, máximo expoente de um cinema artesanal já extinto, rendeu um Oscar de melhor ator a Heston e de ator coadjuvante a Hugh Griffith, além de ter recebido o prêmio pelas categorias de melhor filme, melhor diretor, melhor direção artística a cores, melhor fotografia, melhor figurino a cores, melhores efeitos especiais, melhor montagem, melhor trilha sonora e melhor som.
Também foi o primeiro remake – existem dois outros Ben-Hur, ambos mudos: um curta de 15 minutos de duração filmado em 1907 e outra versão de 1925, dirigida por Fred Niblo – a ganhar a estatueta dourada de melhor filme.
Os três trabalhos são baseados no livro homônimo de Lewis Wallace, publicado em 1880. Os 212 minutos do filme foram gravados em sua maioria, durante nove meses, nos estúdios Cinecittà, em Roma, e uma das cenas mais famosas da história do cinema – a corrida de bigas que provoca a derrota de Messala, amigo de infância de Judah Ben-Hur – foi filmada em três meses.
O filme contou com uma equipe de 8 mil figurantes, mais de 300 peças de cenário e 100 mil de figurino, e não fez sentido utilizar efeitos especiais de computador em sua espetacular recriação do livro. Tudo foi criado à base da imaginação.
E essa inspiração salvou da quebra os estúdios da Metro-Goldwyn-Mayer, que arriscaram a investir na produção um valor recorde na época – de US$ 15 milhões -, que terminou por faturar cinco vezes esse total.
A trilha sonora do húngaro Miklos Rozsa e a fotografia de Robert Surtees fizeram o resto, dentro de uma história situada no Império Romano de Tibério, que narra a passagem do amor ao ódio entre Judah Ben-Hur e Messala, amigos de infância.
Poucos acreditavam que Wyler seria o nome mais indicado para levantar e controlar um projeto tão faraônico. Sua carreira confirmava seu talento em obras íntimas e diferentes, nas quais dirigiu com mão professora talentos como Bette Davis, Olivia de Havilland e Montgomery Clift ou Laurence Olivier.
“Me pediram para que me encarregasse do filme. Não era o estilo cinematográfico que vinha fazendo, mas senti curiosidade para ver se era capaz de fazer algo ao estilo de Cecil B. DeMille”, disse o cineasta, em alusão a filmes como Os Dez Mandamentos (1956).
“Além disso, pensei que este filme faria muito dinheiro e que eu poderia ficar com algo”, acrescentou Wyler, que cobrou US$ 1 milhão para dirigir o filme.
Hoje em dia, parece impossível imaginar outro ator com o rosto de Ben-Hur, mas a MGM ofereceu o papel a Paul Newman, Burt Lancaster e Rock Hudson.
Todos rejeitaram a oferta. Newman porque não conseguia se imaginar em uma túnica, Lancaster porque era ateu e não queria ajudar a promover a Cristandade, e Hudson quase aceitou, até que seu agente chamou sua atenção ao subtexto homossexual na relação entre Ben-Hur e Messala, o que poderia pôr sua carreira em risco.
No final, Ben-Hur se tornou uma obra para a eternidade, que décadas após sua estreia segue atual, como demonstra a espetacular produção teatral homônima que dá a volta ao mundo desde setembro.