O artigo começa assustador:

“Em 1965, havia nos EUA 53 milhões de porcos espalhados entre mais de um milhão de granjas. Hoje, 65 milhões de porcos concentram-se em 65 mil instalações.

Isso significou passar das antiquadas pocilgas a gigantescos infernos fecais nos quais, entre esterco e sob um calor sufocante, prontos a intercambiar agentes patógenos à velocidade de um raio, amontoam-se dezenas de milhares de animais com sistemas imunológicos debilitados.

Cientistas advertem sobre o perigo das granjas industriais: a contínua circulação de vírus nestes ambientes aumenta as oportunidades de aparição de novos vírus mais eficientes na transmissão entre humanos.”

Quem escreve é Mike Davis, professor no departamento de História da Universidade da Califórnia e especialista em urbanismo e meio ambiente. Ele é autor de livros como Ecologia do Medo e O Monstro Bate à Nossa Porta. O artigo apareceu no jornal inglês The Guardian, no site brasileiro Envolverde e em vários outros lugares.

Assim como já havia acontecido com a doença da vaca louca, Davis aponta o verdadeiro culpado pela gripe suína como sendo os métodos modernos de pecuária, as “fábricas” de produção de carne, leite e ovos (além de outros subprodutos) onde milhares de animais se amontoam em espaços mínimos. Como ele diz, “O setor pecuário transformou-se nas últimas décadas em algo que se parece mais com a indústria petroquímica do que com a feliz granja familiar pintada nos livros escolares.”

Segundo Davis, corre o rumor na imprensa mexicana que o “epicentro da gripe situado em torno de uma gigantesca filial da Smithfield [conglomerado de pecuária suína e bovina] no estado de Vera Cruz.”

Ele denuncia que os ciclos naturais de vírus gripais foram rompidos, ocasionando mutações mais resistentes. Davis cita um estudo da Pew Research Center que alertava para o temor de que “a contínua circulação de vírus (…) característica de enormes aviários ou rebanhos aumentasse as oportunidades de aparição de novos vírus mais eficientes na transmissão entre humanos”. O uso irrestrito de antibióticos em suínos também estaria levando ao surgimento de bactérias mais resistentes.

Por isso, para ele, fazer grandes campanhas de vacinação e distribuição de antivirais resolve apenas em focos localizados, o que não ajuda muito no caso de uma gripe que viaja de avião pelo mundo. É preciso ir além, com “novos investimentos massivos em vigilância sanitária, infraestrutura científica e reguladora, saúde pública básica e acesso global a medicamentos vitais.”


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Granjas industriais amontoam porcos e potencializam vírus, diz estudioso

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