Há 50 anos, em um 18 de julho de 1959, um repórter policial chamado Mauricio de Sousa emplacava sua primeira tirinha no jornal em que trabalhava, o Folha da Manhã (hoje Folha de S.Paulo). A tirinha trazia um garoto loirinho e seu cão emburrado. Mais tarde eles seriam conhecidos como Franjinha e Bidu.
Meio século depois, Mauricio criou um império ao redor de seu nome e sua grande criação: a Turma da Mônica. Foram desde então 1 bilhão de revistas vendidas em 126 países, além de cerca de 3 mil produtos licenciados.
O rei dos quadrinhos ganha, a partir de amanhã (18), uma exposição que celebra seus 50 anos de carreira, no MuBE, em São Paulo. Ela estará aberta ao público no domingo (19). Na conversa que teve com o Virgula, Mauricio mostra que a idade não passou para ele e que ainda tem o dom de falar com crianças e jovens, independente de suas gerações.
Aos 73 anos, é um viciado no Twitter (seu BlackBerry está sempre por perto). E, atento às novas mídias, lança em agosto o audacioso projeto Máquina de Quadrinhos, a verdadeira tirinha 2.0. Os fãs poderão entrar em um site e criar suas próprias histórias. As melhores irão entrar em um futuro gibi especial.
Pelo jeito você gosta de usar o Twitter mesmo, não Mauricio?
A gente aqui é um estúdio jornalístico. Tira é quase uma charge em quadrinhos, até sinto falta de fazer. Eu entro de cabeça nas novas formas de comunicação, como o Orkut. Agora veio essa concisão do Twitter, que eu acho ótimo porque você entra rápido e sai rápido também. Você digere qualquer coisa rapidamente.
É como se fosse a tirinha de uma informação?
De certa forma é uma tirinha, te faz exercitar a concisão, o que é ótimo. O balãozinho é uma ideia exposta em poucas palavras. E o Twitter veio com essa possibilidade, por isso que me pegou. Sou eu que o faço. Quando dá tempo, em meia-hora eu varro tudo atrás das informações necessárias para poder passar as que eu preciso.
Como será o site Máquina de Quadrinhos, que será lançado em agosto?
A turma toda está nesses games sociais e mundiais. Uma empresa aí se dispôs a desenvolver um software para a gente trabalhar esse tipo de coisa. Eu não chamo de um jogo, seria mais um game e arte. Nós realmente vamos dar a possibilidade do usuário montar as suas histórias com os nossos desenhos. Com o texto que quiser, o layout que quiser.. Tudo monitorado para não sair uma besteira. Aí vamos fazer uma avaliação e os melhores trabalhos serão publicados em alguma revista especial.
E o fã vai receber algum dinheiro?
Lógico, a mesma coisa de quem trabalha conosco. Vai ser uma loucura!
Falar com essa geração de crianças conectadas está mais difícil?
Para mim, não. Sempre falei com criança, acho que por ter tantos filhos de tantas diversidades (risos). Tenho muito contato com criança, é uma facilidade falar com todas as idades.
O sucesso da Turma da Mônica Jovem, o maior hit editorial das últimas décadas, mostra que as pessoas ainda querem comprar o objeto físico, em vez de apenas procurá-lo de graça no digital?
Lógico que quer, nunca tive dúvida! Senão não investiria na Turma da Mônica Jovem, em novas revistas e produtos editoriais. Agora, os outros meios estão cada vez mais sofisticados e o público está mais exigente, então a história em quadrinho tem de melhorar, mudar de plataforma e falar com esse novo público. Não é mais brincadeira, não é mais história de criança.
As tecnologias digitais agilizaram o processo de criação de um gibi?
Não, ficou melhor, não sei se mais rápido. Maior parte do nosso trabalho ainda é manual, ainda faço questão que os textos dos balões sejam feitos a mão, que as letras não sejam muito iguais, que exista ali um erro. Isso mostra que o nosso trabalho é humano. Essa nossa postura vai contra tudo e contra todos. Dizem que é mais caro, menos rápido… Os computadores entram apenas para melhorar a aparência. Não é uma revolução, como houve no desenho animado. Estamos treinando agora a arte final em tablets, mas não sei qual é o próximo passo que será substituído.