Em tempo de blog, Twitter e celulares com internet, algumas mulheres ainda fazem das antigas agendas de papel os seus diários, hábito que era mania entre as adolescentes dos anos 90. Nelas, anexam recordações e escrevem observações sobre seus cotidianos.
É o caso da analista contábil Débora Alves, 23 anos, que faz agendas desde 1995, quando tinha 9 anos. Anoto idéias que tenho quando estou lendo um livro, um artigo na internet, e acho alguma frase interessante, quando começo a fazer dieta e, é claro, o que aconteceu no meu dia, o que me fez bem, me fez mal, como eu me senti, o que eu devia ter feito, lições que aprendo e principalmente meus desabafos, coisas que não tenho coragem de falar pra ninguém com medo de me arrepender depois, e coisas que quero falar para alguém especifico e que não ia me arrepender, porém não posso, conta.
Ela até comprou um smartphone para ajudar na parte burocrática de seu dia a dia mas mantém a agenda de papel pois não teria coragem de escrever seus desabafos em um blog. A maioria dos blogs de garotas que já visitei sempre falam sobre seus interesses, tipo maquiagem, filmes, musica, moda, livros, viagem, a dificuldade de conciliar a carreira com a maternidade, etc, porém tudo muito politicamente correto, diz Débora.
A jornalista carioca Luciana Ribeiro, de 31 anos, além dos compromissos e aniversários de pessoas queridas, costuma anexar convites e bilhetes de embarque de viagens e os desenhos e figurinhas que sua filha costuma lhe dar. Ela até abriu um blog, o Ponto. Virgula, Reticências…, mas acha que embora a superexposição esteja na moda nem tudo deve ser compartilhado na internet.
Luciana tem também o hábito de anotar músicas e poemas e no final do ano passar todas as anotações pra agenda nova. Com isso, no meio de um dia infernal em que o computador trava e o sistema do banco fica fora do ar posso abrir a agenda e ‘descobrir’ que naquele dia há nove anos eu fui a um super show, viajei ou apenas curti a excelente companhia de alguém muito querido que não vejo mais, conta a carioca, que mantém agendas desde 1992.
No final do ano, as agendas de Débora e Luciana ficam enormes e mal podem ser fechadas. As duas evitam pedir agendas como presentes de Natal ou amigo secreto pois acham um objeto muito pessoal e preferem comprar elas mesmas.