Da tal “geração YouTube” que surgiu nos últimos anos, com vídeos e produções caseiras na internet a fim de conseguir um lugar ao sol (traduzindo: TV), um dos exemplos mais interessantes – e talentosos – vem de Santa Catarina, pelas mãos do grupo de humor Galo Frito. Formado por três estudantes de publicidade, o grupo surgiu como uma brincadeira despretenciosa, feita para aparecer em um canal de TV universitário. A esquete humorística agradou e, como não poderia de ser, resultou em um pedido muito comum hoje em dia. “Joga isso na internet”, pediram. E jogaram.
 
Mas não foi no YouTube, e sim no FizTV, um extinto projeto brasileiro mezzo portal de vídeos mezzo canal de assinatura, que remunerava os filmetes mais populares. O Galo Frito foi ganhando espaço com seus curtas que, além de engraçados e com situações absurdas à Monty Python, têm muitos efeitos especiais.


 


Curiosamente, foi após o fim do Fiz que o grupo realmente ganhou notoriedade não apenas na rede, mas também em jornais, revistas e emissoras. Tudo graças a Dancing Lula (veja o vídeo abaixo), um vídeo em que um dos comediantes dançava em cima de um heliponto ao som de Harder, Better, Faster, Stronger, da dupla Daft Punk. Na gravação, o rosto do presidente foi colado ao corpo de Mederijohn Corumbá, o Mederi, que saculejava prum lado e pro outro.
 
Mederi contou ao Virgula um pouco do Galo Frito, que vem ampliando o seu repertório com curtas metragens, videoclipes e seriados – Perdidos, uma sátira a Lost, vem por aí. Hoje contratado da MTV, ele revela que fazer vídeo na internet rende apenas um trocados. E brinca com a situação: “Tem um emprego aí no site?”
 
Para começar, o de sempre: como nasceu o Galo Frito?
O primeiro Galo Frito foi feito em outubro de 2007, um piloto de 15 minutos para entrar na TV universitária da nossa universidade, a Univali (Universidade do Vale do Itajaí). Só fomos fazer um segundo programa ao fazer o upload do piloto no site do FizTV. Fomos convidados a entrar na grade de programação, e isso foi no dia 14 de março de 2008. Nós nos conhecemos na universidade, pois a gente cursava publicidade e propaganda e já possuía alguma experiência em televisão e vídeos, então isso fez com que ficássemos mais amigos. No começo, éramos quatro: Mederijohn Corumbá, Tiago Cadore, André Petermann (Buda) e Roberto Pereira. O Beto ficou com a gente apenas por uns oito ou nove programas, e teve que sair devido à ofertas de trabalho. Além de nós três, temos participações especiais de amigos, mas uma pessoa que sempre está no Galo Frito e já consideramos uma integrante é a Patrícia dos Reis, a “Chapeuzinho Vermelho”, musa de todos os nossos fãs.
 
Mas o grupo é de 2006, não?
Em meados de 2006, eu e o Guilherme Angeli resolvemos bolar um programa de humor diferente de todos que já existiam no Brasil, usando esquetes em forma de curtas-metragens. Com isso, chamamos André Petermann (Buda) para fazer parte e começarmos a criar um projeto, e assim nasceu o Galo Frito. Quando tudo estava definido, infelizmente o Guilherme veio a falecer, fazendo com que o Galo Frito ficasse na geladeira por cerca de seis meses. Não querendo deixar o projeto acabar, em 2007 chamamos o Cadore para fazer parte do Galo Frito.
 
Quando que os vídeos fizeram sucesso? O Dancing Lula foi o “culpado”?
Já produzíamos vídeos há um ano, mas nunca um deles bombou na net. Mas isso também serve para o fato que também não colocávamos todos no YouTube. Então, um dia eu estava com uma ideia de produzir um vídeo sozinho, fazendo alguma sátira com o nosso presidente. A ideia veio como um flash, pensei em fazer ele dançando! E que música usar para isso? Daft Punk: Harder, Better, Faster, Stronger, uma música que no YouTube possui mais visualizações graças ao vídeo Daft Hands. Não deu outra, vários blogs começaram a viralizá-lo, o mesmo no Twitter, Orkut e etc. No mesmo dia do upload, já havia pego contato com algumas emissoras de TV – inclusive a MTV -, algumas revistas e jornais. Depois de um mês fiz o Dancing Obama, que também foi um sucesso, mas não se comparou ao Dancing Lula. Começamos a ficar famosos e nossos outros vídeos começaram a ser mais vistos, mas nenhum ainda superou os “dancings”.
 
Os efeitos visuais dos vídeos são muito bons. Quem os faz?
Eu e o Cadore editamos os vídeos. Usamos e abusamos do (software de criação de gráficos) After Effects nas nossas produções. Até para dar um pequeno diferencial.
 
Qual a dificuldade de se fazer humor na web? A impressão de que, no Brasil, ela é uma vitrine para entrar na TV. Isso acontece com vocês?
Tivemos muita sorte, logo no começo o extinto canal FizTV nos descobriu e firmou parceria, assim estávamos ganhando bem para fazer o nosso humor. Hoje estamos apenas com um espaço de dois minutos na MTV e, infelizmente, o que recebemos não banca nossos custos e não estamos mais podendo nos focar somente nisso. Tomara que seja temporario e fiquemos com mais tempo na programação, ou até ganhar um programa só nosso. O que custa sonhar?
 
A maior dificuldade de fazer humor na web, dentre as várias que existe, é o retorno financeiro. É possível fazer no tempo livre algumas esquetes, mas não podemos nos dedicar 100%, fazemos outros trabalhos para fora para nos sustentar. O humor na web é muito diferente da TV pois, na rede, se você vê um vídeo que tenha mais de dois minutos, por mais legal que ele seja, você não presta muita atenção e já troca pra ver outra coisa, responder e-mail, entrar no MSN ou no Twitter. As pessoas são mais impacientes na web. Estamos fazendo vídeos de duas em duas semanas, mas não é pela falta de criatividade, e sim dos trocados que são poucos. Por falar nisso, tem um emprego aí pra gente? (risos).


 


Eu vi que a série Perdidos, que tinha sido suspensa porque custava muito para ser feita, irá voltar. A MTV está bancando a ideia?
Sim! A nossa sátira de Lost irá voltar, foi feito um “rebooth” na série, e deixamos os episódios mais curtos. Daqui a algumas semanas estará no ar o primeiro episódio. Somente a gente está produzindo, sem parceria com a MTV. Estamos querendo que essa série bombe na internet, pois quando ainda estavamos no FizTV ela foi um sucesso. Mudamos um pouco a trama, e deixamos ela bem melhor. Vai se passar por temporadas, e vai ter muito mais participações de outras pessoas. A trama ainda é a mesma: quatro cariocas que beberam todas no carnaval do Rio, que acordam numa ilha sem saber como pararam lá. O negoóio que agora há muito mais habitantes nessa ilha. E não são pessoas “do bem”!


 


Essa é a única novidade que vem por aí?
Estamos também produzindo um piloto do Galo Frito, para oferecer para algumas emissoras de TV. E escutei uns boatos que o Lula além de dançar vai cantar também. São boatos, mas… (risos)



 


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Galo Frito: prontos para cantarem mais alto na TV