No último fim de semana aconteceu a oitava edição do Festival No Ar Coquetel Molotov, no Centro de Convenções, em Olinda. A festa rolou em dois dias com as mais diversas atrações nacionais e internacionais que animaram o público pernambucano.

A mistura de folk com música cigana e latina do Beirut levou quase três mil pessoas ao evento. E a plateia se comportou direitinho: cantou junto, gritou, dançou e chorou, mas em seus lugares – a única exceção, uma garota que subiu ao palco para entregar uma rosa para um dos integrantes da banda, foi rapidamente contida pela segurança.

Zach Condon e Cia souberam responder à altura, caprichando no som e na performance. Começaram o show com a alegrinha Nantes, que fez todo mundo vibrar de cara. Depois foi a vez de The Shrew, e do hit Elephant Gun, que fez parte da trilha sonora da microssérie global Capitu, para delírio dos presentes. Na sequência, vieram Cozak, Scenic World, Postcards from Italy, Javanaise, My Wife, Wroclai, The Akara, Cherbourg e Sunday Smile. Todas devidamente acompanhadas pelas coreografias feitas pelo fã-clube do grupo e pelo carisma e simpatia da banda.

No bis, veio uma homenagem ao nosso país, com Aquarela do Brasil, e Siki Siki Baba. Todos saíram do palco, e, quando se pensava que a apresentação havia acabado, Condom volta e toca, sozinho, a fofa Gulag Orkestar, encerrando a noite com maestria. Quem ficou no Centro de Convenções após o término da apresentação, teve uma boa surpresa: o líder do grupo circulou entre as pessoas do evento, tirando fotos com todos e distribuindo sorrisos e bom humor.

Sexo, fofuras e túnel do tempo

As outras atrações do festival também cativaram a plateia. Antes do show do Beirut, subiu ao palco o excêntrico Sebastien Tellier (FRA), representando o Ano da França no Brasil. Com seu charme canastrão, tocou seu brega francês com ares de música de motel e mostrou que sensualidade não depende de beleza. Hipnotizou a todos rolando no chão e soltando piadas o tempo todo.

Thiago Pethit e Tiê (SP) levaram seu folk fofo, e com suas canções bonitas e melodiosas (e com uma certa influência de Yann Thiersen, compositor da trilha sonora do filme O Fabuloso Destino de Amelie Poulan), fizeram todo mundo suspirar. Já a prata da casa Jam da Silva, primeiro da noite no Teatro Guararapes, mostrou de quantas diferentes formas pode soar uma batucada. O multi-instrumentista misturou música regional com beats eletrônicos e agradou. No final, foi aplaudido de pé.

No Auditório Tabocas, a modernidade da música veio sempre com toques vindos do túnel do tempo. A quase tropicalista Ex-Exus (PE), com influências de Secos e Molhados e Mutantes, remeteu aos contestadores anos 70. A Dead Lover´s Twisted Heart (MG) trouxe um rock com pitadas de blues, bem no estilo da década de 50. E as atrações da Invasão Sueca, Britta Persson e Those Dancing Days, mostraram um pop/rock com perfume oitentista.

Segunda noite

A segunda e última noite da oitava edição do Festival No Ar Coquetel Molotov, que aconteceu no Centro de Convenções, em Olinda, Pernambuco, contou com uma plateia diferente da que costuma frequentar o evento. Várias pessoas acima dos 40 anos se misturaram à turma do jeans skinny e óculos wayferer e compareceram para ver um encontro memorável: Lô Borges e Milton Nascimento, em um show de comemoração ao disco Clube da Esquina, lançado em 1972, um dos mais importantes da MPB de todos os tempos.

Mas antes dessa apresentação histórica, a plateia pôde se aquecer com os vários outros shows do festival. No Auditório Tabocas, fizeram parte da programação o cantor folk François Viror (FRA) e a banda de surf rock Radistae (PE), que trouxe para o gênero músicas de Luiz Gonzaga à Oração de São Francisco. Além deles, subiram ao palco o rock indie da Sweet Fanny Adams (PE), que faz parte da trilha sonora de séries como Alice, da HBO e Os Descolados, da MTV, e a dupla de música eletrônica Zombie, Zombie (FRA).

Já no Teatro Guararapes, quem abriu a noite foi o som eletrônico funkeado de Jr. Black (PE). Ritmo e malemolência bastante aplaudidos. Depois foi a vez do experimentalismo instrumental do São Paulo Underground (SP). As músicas não obedeciam a um gênero, podendo lembrar tanto MPB quanto canções orientais. Depois, veio a alegria pop da banda Loney, Dear (SUE). O simpático quinteto fez o povo bater palmas e cantar junto, mesmo sendo desconhecido da maioria.

O lendário Clube da Esquina

Enfim, o show mais aguardado da noite, que lotou o Teatro. Lô Borges começou com Feira Moderna.  Em seguida, cantou canções do Clube da Esquina, como Clube da esquina N°  2, Trem azul e Paisagem da janela, além de músicas de seu repertório, como Dois rios, famosa na interpretação da banda igualmente mineira Skank

Eis que sobe ao palco sob inúmeros aplausos Milton Nascimento, tocando piano e (en)cantando Cais. Depois, o “Bituca” conversou com o público e declarou seu amor fraternal para Lô, confessando que, na época do Clube da Esquina “não sabia como podia sair tanta música de um garoto de 17 anos”. A beleza da amizade de ambos e a afinação dessa parceria se fez ainda mais presente quando cantaram juntos canções como Clube da esquina N° 1, Um Girassol da cor do seu cabelo e Resposta, essa última também gravada pelo Skank.

Em seguida, Milton homenageou a cantora, musa e libertária Leila Diniz e, na sequência, cantou Um cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco. No bis, a primeira música de Lô gravada por Milton, Para Lennon e McCartney. O encerramento de uma apresentação que, assim como o Clube da Esquina, vai ficar na memória.


int(1)

Festival No Ar Coquetel Molotov leva Beirut, Lô Borges e Milton Nascimento a Pernambuco