O presidente da Bolívia, Evo Morales, que no domingo (6) tenta renovar o mandato nas eleições gerais do país, espera que seu partido arrase nas urnas e assegure a maioria absoluta do Parlamento, o que deixaria o caminho livre para a “revolução democrática e cultural” que promove.

Após quatro anos no poder, o esquerdista, indigenista e anti-imperialista Morales desponta como franco favorito nas pesquisas eleitorais. Na mais recente delas, divulgada na última quarta-feira, o chefe de Estado aparecia com 52,6% das intenções de voto e uma vantagem de mais de 30 pontos sobre seu principal adversário, o opositor Manfred Reyes Villa (21,1%).

Mas o primeiro indígena a chegar à Presidência da Bolívia – Morales é da etnia aimara – já disse que não vai se conformar apenas com uma maioria simples no Legislativo. Ele quer que sua legenda, o Movimento ao Socialismo (MAS), conquiste pelo menos dois terços da futura Assembleia Plurinacional (Senado e Câmara dos Deputados).

A fome de poder tem justificativa: o governante não quer obstáculos à aprovação de reformas na nova Constituição, a primeira da Bolívia aprovada em plebiscito e considerada o pilar do “processo de mudança” promovido pelo líder.

Na legislatura atual, empecilhos não faltaram aos planos de Morales. O Senado, dominado pela oposição, bloqueou as leis propostas pelo Governo, que, por outro lado, não aceitou negociar, salvo em momentos críticos e naqueles em que a violência se tornou uma ameaça ao Executivo.

A polarização política, de fato, foi uma constante no primeiro mandato de Morales. A raiz dela esteve nas duras disputas com a oposição, travadas em duas frentes: no Parlamento e nos departamentos autonomistas.

No fim, a esperança de mudança representada pelo líder indígena acabou apagada por um processo constituinte polêmico, já que, no fim de 2007, o projeto da nova Carta Magna foi aprovado sem nenhum representante da oposição presente e em meio a uma onda de violência na cidade de Sucre, onde três pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas.

A crise se agravou em 2008, com a decisão dos opositores autonomistas de instituírem o autogoverno nas regiões de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija, medida considerada ilegal por Morales.

A oposição reagiu convocando um referendo revogatório sobre o mandato do presidente e dos nove governadores do país. Com o apoio de 67,4%, o chefe de Estado saiu da consulta fortalecido.

Os opositores, por sua vez, saíram às ruas. Os protestos geraram confrontos em vários pontos do país, o maior deles em Pando, onde pelo menos dez pessoas perderam a vida.

À beira do abismo, a Bolívia abriu caminho para o diálogo no último trimestre do ano passado, tutelada pela comunidade internacional. As negociações trouxeram a “paz” de volta e possibilitaram a reforma parcial da Constituição, finalmente aprovada em referendo em 25 de janeiro deste ano.

Agora, Morales chega às eleições gerais com uma liderança consolidada, uma crise política por enquanto exorcizada e uma oposição enfraquecida e dispersa.

Nos últimos meses, paralelamente aos compromissos oficiais, ele intensificou sua campanha, algo inédito em um país sem tradição de reeleições consecutivas.

Para conseguir o maior apoio possível dos eleitores, o presidente decidiu focar seus “flancos débeis”. É o caso da classe média urbana, para a qual o candidato moderou seu discurso.

O governante também conseguiu atrair para seu partido a candidata ao Senado por La Paz, a veterana jornalista e ex-defensora pública Ana María Romero de Campesino. Outra estratégia foi tentar “conquistar” os departamentos autonomistas, nos quais quase nunca esteve devido à grande rejeição que o anúncio de sua presença causava.

Morales também não se descuidou dos chamados “movimentos sociais”, que o apóiam incondicionalmente e são representados pelas classes sociais mais desfavorecidas, como as dos indígenas, camponeses e operários.


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Favorito, Morales busca vitória no Legislativo para garantir "revolução"