Foi em 1998 que o duo francês Air, formado por Jean-Benoît Dunckel e Nicolas Godin, estourou com o disco Moon Safari e seu hino Sexy Boy. Desde então, a dupla construiu uma rica discografia repleta de romantismo, sensualidade e mistério.
Com seu recém-lançado disco Love 2, que tem Sing Sang Sung como faixa de estreia, o vocalista Dunckel conversou com o Virgula sobre a nova fase da carreira do Air. Além de estar com álbum novo, agora a banda tem seu próprio estúdio e, pasmem, também pretende se apresentar pela primeira vez no Brasil em 2010.
Estamos planejando em ir ao Brasil em outubro do ano que vem, diz o simpático Jean-Benoît em entrevista por telefone. Ainda não temos certeza, nosso empresário está organizando tudo, mas queremos ir, diz o vocal que dará início, ao lado de seu inseparável parceiro, à turnê do último trabalho no dia 26 de novembro deste ano, em Arhuus, na Dinamarca. E brinca: Vocês só precisam dizer: ei, nós queremos vocês. Portanto, Ei, Air!
Já sobre Love 2, o novo disco que transborda amor até em seu título, o francês afirma que esse é diferente. Pela primeira vez na história da dupla eletrônica – que a cada álbum mostra a sua capacidade de criar delicadas e grandiosas melodias instrumentais -, Jean-Benoît e Godin escreveram, produziram e gravaram todas as faixas do álbum.
Já trabalhamos com algumas pessoas [como Charlotte Gainsbourg e Jarvis Cocker] e queríamos fazer algo novo. Quando você é um artista, tem que renovar o tempo todo, acredita. Agora, o nosso produtor é o novo estúdio, afirma o vocalista, que gravou todas as faixas no Atlas, estúdio da banda que abriu suas portas recentemente em Paris e que receberá artistas com que a banda se identifique.
Novos sons
Para Jean-Benoît, apaixonado por acústica e arquitetura, ter seu próprio estúdio é como realizar um sonho de infância. Além de marcar a liberdade de sair de um estúdio comercial e de ter mais tempo para trabalhar nas músicas, o Atlas também possibilitará maior ousadia e novas experiências para o grupo.
Acho que o Air é muito ligado a uma certa textura e é muito importante nós mesmos criarmos nosso próprio som, conta Dunckel. Eu também queria descobrir novos processos de gravação, diz o artista, em um dos poucos momentos da entrevista que fala por si só e não em nome da dupla. Além de produzir ao lado de seu amigo de longa data, JB também tem sua carreira-solo, em que se apresenta como Mister Darkel.
Sobre a nova rotina da banda, pós-Atlas, Jean-Benoît conta que tudo ficou muito mais fácil. Nós vamos todo dia para o mesmo lugar, diz. Mas alerta: Quando bandas fazem isso [de ter seu próprio estúdio], normalmente, elas começam a criar músicas muito ruins. Quando elas constroem o seu próprio estúdio, é o começo do fim, fala Dunckel. Por que? Porque tudo se torna fácil demais.
Entretanto, mesmo com toda essa facilidade, parece que a banda não pretende se acomodar tão cedo. Segundo JB, por causa das possibilidades que o novo estúdio oferece, os fãs podem esperar por músicas orquestrais em um futuro trabalho. Acho que em nosso próximo disco vamos trabalhar com orquestra. Agora, com o estúdio, podemos criar uma, revela o artista, com bastante empolgação, em seu inglês carregado de sotaque francês.
Doença Tropical
Durante a conversa, que durou pouco mais de 20 minutos, Dunckel, que nunca esteve no Brasil, também disse que o país serviu de inspiração para o sensível Love 2. Para compor a faixa Tropical Disease, o cantor disse que se imaginou vendo o Rio de Janeiro dentro de uma avião; como se fosse uma viagem. Me veio à cabeça a imagem daquele grande Cristo que tem no Rio. Não sei explicar o porquê, explica.
Questionado sobre o título Doença Tropical (tradução), Jean-Benoît diz que o grupo gosta quando a música soa um pouco como um veneno. E completa: mas bem que a música poderia se chamar Disease of Love [doença do amor].
Música como cura
Sobre todo o amor que as canções de Love 2 transbordam, JB explica que criar música é uma maneira de solucionar todas as questões amorosas dele e de Nicolas. Temos muitos problemas relacionados ao amor. Nosso amor não é fácil, diz. O fato de sermos músicos nos faz ser amantes bastante estranhos e a música é uma maneira de a gente se manter estável.
Para ele, Love 2 ainda é sobre emoção. Nós tentamos passar esse sentimento para o disco, conta. E, em poucas palavras, Dunckel define o último álbum do Air como erótico e sexy. Queremos que as pessoas se sintam felizes e sexy enquanto escutam o disco. Gosto de imaginá-las se mexendo um pouquinho ao ouvi-lo.
E continua: Acho que as pessoas deveriam se deitar no chão [ao ouvir Love 2] e pensar sobre suas vidas. Portanto, seguindo o conselho de Jean-Benoît, talvez esteja na hora de desligar o computador, colocar o disco para tocar ao lado de uma boa companhia e curtir. Ou quem sabe só comentar: Sabe essa banda? Ela vem tocar no Brasil ano que vem.