O enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, George Mitchell, tentou nesta terça-feira, sem sucesso, convencer o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, a retomarem o processo de paz, estagnado desde o final de 2008.
A Casa Branca trabalha contra o tempo para que israelenses e palestinos voltem à mesa de negociações com uma reunião tripartida entre Abbas, Netanyahu e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por volta do próximo dia 23, em Nova York, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas.
A proposta tropeça na recusa palestina de retomar o diálogo enquanto Israel não se comprometer a deter a expansão dos assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental e Cisjordânia.
“Nossa posição continua sendo a mesma. Não vimos passos que nos façam modificá-la. Até que não haja mudanças por parte de Israel, não movimentaremos qualquer peça”, ressaltou hoje o chefe negociador palestino, Saeb Erekat, em uma breve entrevista coletiva na cidade cisjordaniana de Ramala, após reunir-se com Mitchell.
Nesta conjuntura, o enviado da Casa Branca se limitou a assinalar que os EUA “estão trabalhando para fazer com que as negociações sejam retomadas nas próximas semanas”. Esta manhã, depois de se reunir com Netanyahu em Jerusalém, Mitchell se mostrou “esperançoso” de poder chegar a um acordo com Israel para interromper a expansão das colônias e abrir, com isso, a porta ao diálogo.
“Espero que nesta fase das conversas cheguemos a um acordo e que possamos continuar a busca comum de uma paz na região”, disse Mitchell aos jornalistas em uma breve coletiva com o primeiro-ministro israelense. “Nós estendemos a mão aos palestinos na busca da paz e desejamos uma situação de prosperidade e segurança na região”, assegurou Netanyahu antes do início da reunião.
Mais tarde, vazou a informação de que o escritório do primeiro-ministro qualificou a reunião de “positiva”, mas o jornal “Ha’aretz” afirmou que os dois países fracassaram na tentativa de alcançar um compromisso sobre as colônias.
Netanyahu, que no último dia 6 aprovou a construção de outras 455 casas em território ocupado, se mostra disposto a uma “redução” parcial da edificação. No entanto, o governante assegurou ontem na Comissão de Exteriores e Segurança do Parlamento israelense que “não haverá paralisação completa”, e que as obras continuarão em Jerusalém Oriental, porque “não é um assentamento”.
Segundo o “Ha’aretz”, os Estados Unidos exigem que as construções sejam totalmente paralisadas no prazo de um ano. Mitchell se reunirá novamente, amanhã de manhã, com o líder de Governo israelense, a quem transferirá os resultados de seu encontro da noite desta terça-feira com Abbas, com quem compartilhou um “iftar”, a refeição dos muçulmanos após o jejum durante o dia, durante o Ramadã.
O enviado da Casa Branca se reuniu depois com Erekat, que antes do encontro com Abbas tinha deixado claro em comunicado que o presidente palestino não retomará o diálogo de paz com Israel sem um compromisso prévio de que a expansão das colônias será interrompida.
Erekat rejeitou ainda que Abbas vá participar da conferência tripartida promovida por Washington, porque “permitiria a Netanyahu apresentar-se como um homem que procura a paz e a negociação”. O negociador palestino acusou ainda Netanyahu de querer excluir do diálogo o tema de Jerusalém (em cuja parte oriental os palestinos pretendem estabelecer a capital de seu futuro Estado), o destino dos milhões de refugiados palestinos e as fronteiras definitivas.
Na mesma linha se expressava hoje no “Ha’aretz” um dos principais assessores de Abbas, Yasser Abed Rabbo, com uma pergunta retórica: “Para que começar um processo que sabemos que não servirá para nada?”. Desde que Netanyahu formou seu Governo, em março, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) descarta os encontros com líderes de Israel.
O boicote foi quebrado pela primeira vez no último dia 2, em uma reunião entre o ministro israelense de Cooperação Regional, Silvan Shalom, e o de Economia palestino, Bassem Khoury. Além disso, o “Ha’aretz” informa nesta terça-feira que Erekat se reuniu em segredo na semana passada com o presidente israelense, Shimon Peres, que lhe pediu para transmitir a Abbas a importância de as conversas de paz serem retomadas antes do fim deste mês.