O grupo separatista ETA, cuja fundação completa 50 anos nesta sexta-feira (31), recrudesceu sua atividade violenta coincidindo com esta data com dois atentados em menos de 48 horas, somando dois mortos a sua longa lista de vítimas.
Carlos Sáenz de Tejada e Diego Salva, dois jovens agentes da Guarda Civil espanhola, são as últimas vítimas mortais da ETA, que explodiu na quinta-feira (30) uma bomba em seu veículo oficial na ilha mediterrânea de Mallorca, destino turístico de dezenas de milhares de europeus e da família real espanhola.
O momento e o lugar escolhidos para cometer este atentado, o segundo em pouco mais de 24 horas após ter tentado um massacre com uma caminhonete-bomba em Burgos (norte) um dia antes, buscava, segundo os analistas, uma grande repercussão após ter sofrido fortes revezes devido ao trabalho policial e coincidindo com o 50º aniversário de sua fundação.
Histórico
Sua criação, em 31 de julho de 1959 sob a denominação de “Euskadi ta Askatasuna” (ETA, País Basco e Liberdade), em plena ditadura do general Francisco Franco, foi obra de um grupo juvenil advindo do Partido Nacionalista Basco (PNV), que adotou uma retórica esquerdista.
O objetivo com o qual foi fundado, e que a ETA continua reivindicando, é a independência do País Basco, que denomina Euskalherria e abrange a região vizinha de Navarra.
A organização só cometeu seu primeiro assassinato quase uma década após sua fundação. A primeira morte que lhe foi atribuída é a do guarda civil José Pardines, no dia 7 de junho de 1968.
Desde então, quase 900 pessoas foram assassinadas pela ETA, que também realizou sequestros de políticos, empresários e funcionários, e que se financia através de cartas de extorsão remetidas ao empresariado basco e navarro, que o grupo chama de “imposto revolucionário”.
O fato de ter surgido em pleno franquismo e que em 1973 cometeu um atentado que teve uma grande repercussão política – o assassinato do então presidente do Governo Luis Carrero Blanco, que estava destinado a suceder Franco – apresentou ao bando certas simpatias.
Terrorismo
Mas sua atividade terrorista aumentou coincidindo com a transição espanhola para a democracia após a morte de Franco em 1975, quando foram vividos anos negros, principalmente entre 1978 e 1980 nos quais foram assassinadas quase 300 pessoas, com atentados praticamente toda semana.
A partir de 1981 houve uma queda no número de mortos, mas os atentados continuaram.
Nessa década, durante os Governos de Felipe González, foram criados os Grupos Antiterroristas de Libertação (GAL), um movimento terrorista clandestino organizado por pessoal do Ministério do Interior para combater a ETA e que assassinou 20 pessoas.
Uma década depois, a chegada do Partido Popular (PP) ao poder, com José María Aznar, que foi objeto de um atentado contra seu carro em 1995, focou a estratégia contra a ETA em volta de seu entorno político.
Passado recente
Em 2002 foi aprovada a Lei de Partidos que permite ilegalizar aqueles que apóiam ou amparam o terrorismo e que representa a proibição do braço político do grupo, o Herri Batasuna, e as demais legendas sucessoras.
Essa estratégia política foi respaldada no dia 30 de junho pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos, com sede na cidade francesa de Estrasburgo, que rejeitou o recurso contra a ilegalização apresentada pelo Batasuna.
A pressão sobre seu entorno político e a colaboração entre as forças de segurança francesas e espanholas – a cúpula “etarra” se esconde na França – levou a ETA na atualidade, segundo o Ministério do Interior e os especialistas, a um momento de grande fraqueza que não elimina sua capacidade de atuar.
Nos últimos seis anos, houve uma notável queda de vítimas fatais (11 mortos no total), e durante 2004 e 2005, os dois primeiros anos de Zapatero, não houve assassinatos, com a ETA declarando uma trégua em março de 2006.
Mas em 30 de dezembro de 2006, voltou a matar com um carro-bomba no aeroporto Madri-Barajas, atentado com o qual pôs fim à trégua, embora formalmente tenha sido em junho de 2007 que deu por fracassada a tentativa de diálogo realizada por Zapatero.
Não foi a primeira vez que um Governo espanhol contemplou a possibilidade de negociar com a ETA. Anteriormente, Aznar também fez uma aproximação nessa direção, que não chegou a concretizar, da mesma forma que Felipe González no final da década de 80, nas chamadas conversas de Argel, que também não prosperaram.
Hoje, o porta-voz parlamentar do Partido Socialista (governo), José Antonio Alonso, descartou a possibilidade de entrar em negociação com o grupo, incluído na lista de organizações terroristas da União Europeia e com centenas de ativistas reclusos em prisões de Espanha e França.