Mesmo depois de 15 anos da morte de Kurt Cobain, o ídolo do grunge ainda é assunto de mesa de bar e sua banda, o Nirvana, é discografia básica para adolescentes que estão começando a “curtir um som” rocker. Só que por trás de toda essa lenda, sempre teve um líder com ideias contraditórias e de personalidade muito complexa: um ícone de um gênero que assolou o mundo (e tirou espaço de outros), mas que não sabia lidar e nem se acostumar com essa posição. É justamente esse aspecto da vida do músico o tema do documentário Kurt Cobain: Retrato de uma Ausência, que estreia nesta sexta-feira, dia 31, nos cinemas de São Paulo.
A premissa é simples: o diretor AJ Schnack compilou os melhores momentos das mais de 25 horas de entrevistas gravadas com Kurt, entre 92 e 93, pelo jornalista Michael Azerrad – lançadas no livro Come As You Are: The Story of Nirvana. Só atente para um detalhe: é apenas áudio, sem qualquer imagem de Kurt Cobain. Então como transformar isso em filme? O cineasta colheu imagens do cotidiano dos lugares citados durante a narração – Aberdeen, a cidade natal, Olympia, onde ele começa a se inserir no meio musical, e Seattle, local de exposição da banda e da sua morte precoce – para compor a proposta do filme.
Schnack foi aos lugares pelos quais o líder do Nirvana passou, com a serraria onde o pai ausente trabalhava, a biblioteca em Aberdeen, onde ele passava a tarde ociosa, os locais onde a banda começou a ensaiar e vários outros lugares particulares da vida do cantor.
Apesar de às vezes parecer um daqueles vídeos amadores do YouTube, em que o fã pega uma música e coloca ao fundo imagens que tem a ver com a letra, o resultado ficou de certa forma poético. Mostra como estão aqueles lugares ou como vivem aquelas pessoas para fazer um paralelo com a visão de mundo de Kurt.
Mesmo sendo um material raro, um dos poucos registros sinceros e pessoais de um ídolo normalmente relegado a obviedade, o documentário pode não agradar os fãs que esperam uma cinebiografia ou um apanhado de videoclipes e performances do ídolo no Nirvana.
O ídolo nu e cru
Durante o documentário, Kurt é posto num divã e aparece nu e cru para o jornalista Michael Azerrad. Ele discorre sobre a infância, a ausência do pai, o impacto de uma música do Queen na adolescência, a primeira guitarra, a formação da banda [quando se questiona “quão bem sucedida pode ser uma banda que mistura Black Sabbath e Beatles?”], a sua relação com a fama até a dificuldade em lidar com as drogas e a depressão.
Ele nos revela, inclusive, que usava heroína para esquecer as fortes dores de estômago que sentia e atribui ao martírio o motivo maior para um suicídio. “Essas dores de estômago já me fizeram sentir vontade de morrer”, revelou.
Nos momentos finais do documentário, Kurt mostra todo seu ódio e desprezo pela mídia e o que as intrigas na imprensa sobre drogas poderiam causar mais tarde na formação de sua filha, Frances Bean. “Todos querem nos ver mortos”, alfineta o ícone da música dos anos 90.
Se você é fã da banda e está interessado em conhecer um pouco mais da personalidade de seu líder de uma forma mais conceitual e menos óbvia, o documentário é uma ótima pedida. Agora, se você quer vê-lo cantar, fique em casa e acesse os vídeos no YouTube. É mais negócio.