A Badalhoca é o melhor exemplo brasileiro da chamada “Geração YouTube”. Formada há quatro anos por dois estudantes recém-formados do Ensino Médio, que resolveram usar o portal de vídeos do Google para mostrarem suas veias humorísticas, a produtora independente carioca foi criando um público cativo na rede, que pegava os seus vídeos de comédia e os espalhava pela web num tremendo potencial viral.
No case de sucesso de Erik Gustavo e Ronald Rios estão o curta Você Devia Jogar Basquete, a série Com a Palavra, Ronald Rios e uma paródia de uma recente publicidade da Skol, que resultou numa censura por parte da cervejaria.
O Virgula bateu um papo via Messenger com a dupla, contratada pela MTV desde outubro do ano passado.
Vamos lá?
Ronald Rios: Seja breve, tô saindo pro Projac já, já.
Erik Gustavo: Meu Frappuccino chegou?
Pergunta clássica: como vocês começaram a produzir os vídeos para a web?
RR: Já contei essa história umas 20 vezes… Imprensa preguiçosa! Ela começou com o Erik ali em 2005, 2006, não sei bem. Aí, no final de 2006, eu mandei um projeto dum vídeo para ele e aí eu “joinei” a coisa. Eu achava que a Badalhoca fosse algo maior quando entrei, mas era só ele. Todo mundo pensa que é algo maior, mas nem CNPJ tem.
EG: Até então eu só chamava alguns amigos pra gravar algumas coisas, nada com roteiro. Aí o Ronald tinha um site, Rock de Índio, que eu acabei pedindo pra entrar, colaborar e tal. Daí um belo dia a gente tava conversando sobre esses vídeos e ele tinha uma ideia para um roteiro. Funcionou bem, a gente encontrou uma dinâmica. Daí foi só festa…
RR: .. praia, maconha e comer todas as burguesas em Fernando de Noronha.
Como vocês eram estudantes, que tinham as tardes livres, podiam passar o dia todo se dedicando aos vídeos, não?
RR: Mais ou menos. Eu tinha terminado o Ensino Médio há quase um ano e não tinha entrado na faculdade. Eu não trabalhava nem estudava, então literalmente tudo que eu tinha era fazer os vídeos.
EG: Eu já trabalhava. Pai de ninguém pagou por nenhuma “fita” nossa. Até porque o pai do Ronald abandonou a família, né?
RR: Eu tinha um blog bem sucedido, mas isso nunca ajudou ninguém. Eu só ganho brindes (risos). Hoje uma agência me ofereceu um Nike, que sucesso!
EG: Eu tinha um blog mal sucedido.
O vídeo de “Você Devia Jogar Basquete” foi o que pôs a Badalhoca no mapa?
RR: Foi sim e posteriormente com o “Com a Palavra…”. Gerou mais matérias e tal.
Atrapalhou muito o fato de no começo vocês fazerem muito sucesso, serem alvo de várias entrevistas, mas ao mesmo tempo não ganharem nenhum dinheiro com os vídeos?
RR: Cara, um pouco… A gente entendia que era assim que funcionava, a gente estava mostrando a nossa comédia. Sabia que se continuássemos fazendo as pessoas rirem, uma hora íamos receber para isso. E hoje recebemos! Pouco, mas já recebemos… Acabei de comprar um home theater em 12 parcelas. Pretendo pagar só a primeira.
EG: Sempre pensei em fazer a parada pela graça toda, pelo movimento! Da grana que eu recebia/recebo com meus frilas e trabalhos, sempre guardei uma parte para investir em equipamento. “Dinheiro é consequência” – Erik Gustavo.
RR: Depois da MTV fizemos vídeos promocionais para a “Revista M..”. e para a grife Reserva. E agora estamos avaliando outras propostas que surgem sempre. Avaliando: aceitando e esperando aceitarem de volta.
A MTV tem olhado bastante para os novos talentos que surgem na web e depois os integram para a sua programação. Vocês sentem que os canais de comunicação estão se abrindo para essa “geração YouTube”?
RR: As mídias tradicionais daqui estão se abrindo muuuito pouco. É bem pouquinho. Só a MTV que é boa mesmo nisso. Nem falo por trabalhar para eles, mas é a verdade. Se você faz sucesso na web, a MTV vai atrás de você. Eles estão ligados no que é bom no www.
Estão conseguindo pagar as contas após terem entrado na MTV?
RR: Cara… É aquela história: a gente tá crescendo lá dentro. O que eles pagam é um incentivo ainda. Futuramente vamos enviar 2 pilotos (um programa de variedades e uma versão do “Com a Palavra”) para termos nosso próprio programa mesmo e aí a gente vai ver o que é. Recebemos um dinheiro que mantém a gente com a cabeça no jogo e nos evita de, sei lá, prestar concurso público.
EG: A gente é tipo o Vasco na 2ª divisão: tá todo mundo ganhando pouco, mas cada um tá dando seu melhor pra chegar na elite.
RR: (Risos) Mas o objetivo é virar o Adriano Imperador: se envolver com umas vagabundas e voltar para a favela.