Eu gosto mais das coisas da rua, diz a menina Jennifer Dias, de 11 anos, enquanto termina o lanche na praça de alimentação do shopping de maior movimento na capital federal.
A alguns metros, Gabriel Bonfim, de 6 anos, afirma que fruta, arroz e feijão é que fazem crescer, porém gosta mais de saborear a promoção da lanchonete. Para as mães das duas crianças, a preferência pelo lanche em vez da comida se explica pela propaganda na televisão e pelo apelo dos brindes.
Os supostos efeitos da publicidade sobre o consumo infantil fizeram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) elaborar uma resolução para restringir e regulamentar a propaganda de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, gordura e sódio e de bebidas com baixo teor nutricional.
A agência está analisando mais de 250 sugestões que recebeu na consulta pública (nº 71/06) a que submeteu a norma por 140 dias. As sugestões serão sistematizadas, reapresentadas em audiência pública e, posteriormente, encaminhadas para a diretoria colegiada da agência.
Contra os estímulos
Para os institutos Idec e Alana, que promoveram nesta terça (10) um debate para discutir as práticas da publicidade e do marketing de alimentos, é fundamental discutir o tema neste momento. Tudo leva a crer que não há interesse nenhum dos anunciantes em discutir isso seriamente, afirmou o gerente de Informação do Idec, Carlos Tadeu de Oliveira.
Segundo ele, a propaganda não é um mal em si, no entanto, o consumo excessivo do chamado fast food pode causar diabetes, hipertensão e obesidade, daí a necessidade de regulamentar a publicidade para os alimentos. Pessoas em pleno desenvolvimento não podem ser bombardeadas pela propaganda, defendeu.
A advogada Isabela Henriques, coordenadora geral do projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, confirma que 15% das crianças no mundo têm problemas de obesidade. Além dos problemas de saúde, o incentivo ao consumo na infância pode antecipar a erotização, afetar a formação de valores, gerar estresse na família e até favorecer a violência. A entrada da criança no mundo da criminalidade está ligada ao consumo, disse ela.
Trinta e dois por cento das sugestões recebidas pela Anvisa na consulta pública foram propostas pelo setor em regulamentação, 25% da chamada sociedade organizada. Conforme a agência, houve também a participação de pessoas físicas (29%) e de instituições de combate ao câncer (14%).