Demônios, ratos, tanques, caveiras, números e o nome de colegas mortos nas guerras do Iraque e do Afeganistão são algumas das marcas que jovens recrutas norte-americanos carregam no corpo depois de passar pelo estúdio River City Tattoo, no Texas.


 


Perto de lá fica a maior base militar dos Estados Unidos, o Fort Hood, de onde partem recrutas estreantes para as guerras no Oriente Médio.


 


Numa matéria publicada na revista Piauí deste mês, há um desconcertante registro desta geração, feito por Nancy Schiesari, documentarista e professora da Universidade do Texas.


 


De 2005 a 2009, Nancy e sua equipe gravaram depoimentos para o filme Tatttoed Under The Fire (Tatuados Sob Fogo), exibido em novembro pela PBS, uma rede pública de televisão dos EUA.


 


Nancy conseguiu captar com sensibilidade os anseios, o medo e a angústia dos jovens que uma vez que desembarcam em solo estrangeiro, podem morrer a qualquer minuto.


 


A tatuagem aparece como uma forma de realçar a individulidade e dar força aos recrutas, e quase nenhum deles escolhe os desenhos que já estão na parede do estúdio. Já chegam lá com a idéia do que querem.


 


Travis, que tatuou um bebê dentro de um liquidificador, explicou o desenho: “Esse bebê não sabe se vai ser triturado, estraçalhado, mutilado – uma possibilidade que pode vir a acontecer


comigo”.


 


O recruta se alistou para escapar de uma encrenca com a Justiça e quase no final de seu turno de 13 meses em Bagdá uma garota iraquiana de 3 anos agarrou-se ao seu braço aos berros.



“Foi meu despertar para o que era realmente a Guerra”, contou ele à Nancy, “Hoje não quero chocar mais ninguém”.


 


Jonathan, 27, que tatuou um bebê com uma foice, matou uma criança sem querer durante seu turno no Oriente Médio.


 


De volta aos EUA, casou-se e tem um filho, mais ainda sente os traumas da guerra: tem pesadelos, sua frio constantemente e ainda sente cheiro de carne humana. Mesmo asssim, alistou-se novamente.


 


“Hoje tenho um monte de coisas. Sou dono de um caminhão, tevê de plasma, minha mulher carrega um baita anel de diamante no dedo. Vou à guerra pelo dinheiro. Estou vendendo a minha vida”.


 


O sentimento de revolta fica bastante evidente na jovem Latoya, que nunca mais quer voltar para o Exército. 


 


A ex-recruta tatuou uma ratazana esparramada de costas, bebendo um líquido, com os dizeres “Ratos engordam enquanto bons soldados morrem”.


 


“Odeio cartazes que dizem apóiem nossas tropas. Quando estamos na guerra temos que pagar até para falar com nossos pais na internet. Já o cara que tem o negócio fatura meio milhão de dólares por ano”


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Documentarista registra angústia de jovens recrutas de Guerra através de suas tatuagens