Faltam menos de três meses para uma mudança radical acontecer na vida social do Estado de São Paulo. É quando entra em vigor a nova lei que proíbe o uso de tabaco (cigarro, charuto, cachimbo, palha) em qualquer lugar público coberto ou parcialmente coberto.

Dois tipos de lugares, em especial, devem sentir o impacto da nova lei: os bares e as casas noturnas. E não tem mais a história de fumódromo: o fumante terá que saciar sua vontade na rua ou em qualquer outra área a céu aberto.

Em muitos lugares do mundo já é assim. Cidades com intensa atividade noturna como Londres, Nova York, Paris, Berlim, Buenos Aires e Rio de Janeiro já contam com leis desse tipo já fazem alguns anos. O Virgula foi conversar com DJs e baladeiros que moram nessas cidades e descobrir com eles como é a realidade de uma balada sem cigarro. Ao lado do nome de cada cidade, o ano de introdução da lei anti-cigarro

NOVA YORK (proibido desde 2003)
Dan Physics, DJ e produtor

“Os lugares não tem mais aquele fedor passado de cigarro e as roupas também ficam sem cheiro depois de uma balada. Ao mesmo tempo, esse cheiro de fumaça e álcool tem sido parte da vida noturna desde que tudo começou. Acho que todos conhecemos pessoas que normalmente não fumam, mas que fumam quando bebem.”

“As pessoas respeitam mais ou menos. Nova York está entrando no sétimo ano da lei, então a maioria das pessoas já se adaptou à ideia de que não podem fumar em bares ou clubes. Alguns lugares arriscam e permitem. Mas é um risco pequeno, já que o órgão da cidade que fiscaliza a lei geralmente não opera depois das 11 da noite. Então alguns lugares ainda permitem que as pessoas fumem dentro.”

“A maioria dos lugares simplesmente faz as pessoas fumar do lado de fora. Isso gerou outro problema, das pessoas reclamando do barulho feito por grupos de pessoas do lado de fora de um estabelecimento, falando alto.”

“Tem festas underground, que rolam num galpão ou loft, e não são fixas, que geralmente permitem o cigarro como se não existisse lei. No primeiro ano depois da lei, saiu uma estatística que o público da balada caiu de 30 a 40%. Mas hoje a maiorioa já se adaptou.”

LONDRES (2007)
Jerome Hill, DJ e produtor

“Acabei de deixar de fumar então é muito mais fácil sair sem ter fumaça atirada na sua cara constantemente. O cheio da balada mudou, sente-se muito mais o CC e os peidos dos outros. ”

“A segurança e os funcionários dos clubes ficam em cima se alguém tenta fuma. De qualquer forma, as pessoas respeitam. Como DJ, sinto um pouco o fato de que em clubes menores, a pista ficou bem mais flutuante, com as pessoas saindo para fumar.”

BERLIM (2007)
Jonty Skrufff, DJ e jornalista

“Como DJ, a lei com certeza não foi boa. Ela interrompe o fluxo da pista e fica bem mais difícil manter a vibe da pista. De repente, um monte de gente sai para um cigarrinho. Apesar disso, você se acostuma.”

“Do lado positivo, as pessoas acabam se encontrando nas áreas de fumantes. Compartilhar cigarro e isqueiro sempre foi uma grande maneira de conhecer gente. Também é muito bom chegar em casa sem estar fedendo a cigarro. Falando em fedor, o CC é um problema maior na pista, os maus cheiros não são mais disfarçados. No clube, o cheiro de cerveja velha, o cheiro do clube quando está vazio, fica muito mais evidente.”

“Em Berlim, todo mundo ignora a lei e fuma em todo lugar. Eles estão falando até em cancelar a proibição em breve. As pessoas fumam meio escondido e geralmente ninguém fala nada. Os clubes criaram lugares isolados: na rua ou em jardins. O movimento do povo saindo para fumar tem provocado filas.

PARIS (2008)
Livia Carmona, linguista, brasileira trabalha no Ministério das Relações Exteriores da França

“Tinha um bar que eu ia muito que, depois do fumo zero, as pessoas brincavam que o bar até mudou de cor. Antigamente nas boates o cheiro do cigarro escondia o cheiro do suor. E agora tá um cheirão de CC.

“Um problema que aconteceu aqui, é que muita gente com a desculpa pra fumar, fugia sem pagar a conta. As boates que usam sistemas de cartão foram as que mais sofreram.

“Teve um sistema adotado numa boate que criaram um casaco com o logotipo da boate. Antes de sair eles pegavam o agasalho, vestiam, saiam, fumavam e devolviam o agasalho para o segurança. Eles acabavam fazendo uma propaganda da casa noturna/bar.

“Eu acho que isso acabou inibindo os fumantes. Parece que eles são mais mal vistos pelas pessoas e pelos donos de bares, restaurantes. Os não fumantes é que estão bem felizes porque aqui na França era infestado de cigarro.”

BUENOS AIRES (2007)
Mary Zander, DJ brasileira

“Na verdade, não sabia que em Buenos Aires já tínhamos aderido. Minha impressão é de que a política tabagista aqui é mais flexível, em termos de propaganda, por exemplo, as marcas de cigarro seguem anunciando em revistas e meio exteriores.”

“Fora isso, em relação aos clubes e bares, a impressão que tenho é que se a tal lei existe, estão todos fora da lei!! Não rola repressão ao fumo nas áreas fechadas e até mesmo em clubes como Barhein, onde a pista é num subsolo, já que o local operava como um banco antes, imagina, bem fechado, geraaaal fuma!”

RIO DE JANEIRO (2007)
Nepal, DJ

“O cheiro ficou diferente, não sou fumante, mas acho até que o cheiro da fumaça era melhor que o cheiros de alguns materiais de limpeza e dos banheiros sujos. A Fumaça ajudava a difarçar a má limpeza e cheiro de cerveja de alguns estabelecimentos.

“O que mais vejo é isso tem sempre alguém tentando fumar onde não pode, afinal no Brasil sabe como é né? A lei pune o estabelecimento não o infrator que não tá nem aí para a lei ou para os demais que estão ali.”

“Alguns clubes criaram áreas para fumantes, outros deixam sair pra fumar. Nas boates não vi muita diferença pois, como já disse, aqui no Rio a lei tá só no papel, graças a Deus. Acho que a a tal lei seca teve efeito maior.”


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DJs e baladeiros contam como é nos lugares onde já existe a lei antifumo

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