Diretor fala da ligação do curso de cinema da FAAP com a Mostra

O movimento de profissionalização do Cinema brasileiro passa pelas mãos de Rubens Fernandes Junior. Desde os anos 70, ele é um dos responsáveis pela consolidação do debate acadêmico sobre a sétima arte no país. Por isso, é impossível separar o amadurecimento alavancado por Rubens da 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, evento que é um dos mais importantes do calendário cinematográfico nacional.

Há 14 anos, este cidadão de Rio Claro (SP) apaixonado por fotografia transformou o Instituto de Comunicação e Marketing da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em São Paulo, em uma referência para o cinema nacional. A fórmula deu tão certo que a graduação em Cinema passou a ser o curso mais procurado da instituição.

Com o terceiro maior acervo de Cinema do país e uma das mais completas estruturas de ensino da sétima arte, Rubens Fernandes Junior se orgulha ao ver alunos e ex-alunos despontarem em mercado cada vez mais qualificado.

Laís Bodanzky, Mara Mourão, Manoel Paiva, Flávio Del Carlo, Beto Brandt, Caio e Fabiano Gullane são alguns dos nomes da nova safra de diretores do cinema tupiniquim ensinados pelo mestre Rubens e sua equipe. Isso sem falar de Esmir Filho, o jovem e premiado diretor de Os Famosos e os Duendes da Morte, longa que será exibido na Mostra nesta sexta-feira (30). E ainda de Renata de Almeida, que, ao lado do marido Leon Cakoff, organiza a Mostra de Cinema de São Paulo.

Com exclusividade, o Virgula conversou com Rubens Fernandes Junior, que nos contou como foram seus primeiros projetos na Faap e os diferenciais dessa graduação.

Quando começou a sua história no Cinema?

Bom, eu sou formado Engenharia Civil e em Jornalismo. Cheguei a cursar Física, mas não terminei. A paixão pela fotografia falou mais alto e caminhei para um mestrado na área de semiótica, que fiz na própria Faap. E eu me especializei cada vez mais em fotografia até ser convidado para ser professor, depois coordenador e hoje estou na direção. A fotografia sempre foi minha grande paixão. Obviamente, o cinema caminhou junto.

E a relação da Faap com o Cinema?

A Faap tem cursos de Cinema desde a década de 50. Eram cursos livres que surgiram junto com o Museu de Arte Brasileira com temáticas na área de pintura, arte e fotografia. Então, se a gente olhar para trás, a arte nesta universidade surgiu há muito tempo. Já em 1967 foi criada a Faculdade de Comunicação que, a partir dos anos 70, oferecia um curso conhecido como Polivalente, nas áreas de Rádio, TV e Cinema. Foi no final da década de 70 que os cursos foram desmembrados. Você pode ver que estamos formando cineastas há mais de 30 anos.

Que mudanças o sr. acha que foram importantes para o curso?

Eu estou na diretoria há 14 anos. Na época da minha chegada, fizemos um esforço para investir em Cinema. A primeira grande compra q fizemos foi uma câmera Aaton, que na época custou quase US$ 60 mil. Quem batalhou junto comigo pra gente fazer esse upgrade foi a turma da Laís Bodanzky, uma cineasta formada aqui. Eu me lembro também que o grupo dela e vários outros grupos, como o do Caio e do Fabiano Gullane, ajudaram naquele momento. Foi nessa época que começou a mudança que resultou em uma nova relação da instituição com o cinema de São Paulo e do Brasil. Há uns 12 anos atrás completamos a reformulação com a compra de todos os equipamentos para a produção de Cinema. Esse modelo foi implementado a partir das melhores universidades estrangeiras. Eu me recordo que naquela época o filme que “explodia” nacionalmente era o Carlota Joaquina, da Carla Camurati.

O que representa a Faap para o cinema brasileiro?

Eu posso dizer com tranquilidade que hoje a Faap é parte concreta e efetiva do que tem sido construído no cinema brasileiro contemporâneo. Seja na critica, produção, edição e direção.

Para se ter uma ideia, somos procurados por muitos cineastas que querem lançar o filme na faculdade antes de colocá-lo no mercado. É uma atividade acadêmica muito importante para nós e para os cineastas e produtoras, pois temos professores e estudantes qualificados que ajudam a melhorar os filmes. Hoje temos um trânsito muito interessante com cineastas e produtoras.

Além disso, a estrutura da faculdade é excelente. Temos 3 mil livros, 5 mil cartazes, 7 mil fotos de filmes que ajudam a FAAP a contar a história e preservar a memória do Cinema. Posso dizer seguramente que o acervo da Faap é o terceiro maior do Brasil, atrás apenas da Cinemateca Brasileira e da Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro.

Qual o papel da Faap na Mostra de Cinema de São Paulo?

Temos uma ótima relação. A Faap é parceira há 7 anos. Nesse tempo, mais de 30 cineastas já vieram até a faculdade para conhecer nossa estrutura e nossos diferenciais. Ícones como David Lynch já estiveram conosco. Isso quer dizer que nenhuma escola do país tem tamanha troca de informações entre alunos e cineastas. Para nós é uma grande vitrine estar na mostra seja através da parceria como por meio de nossos ex-alunos. A Mostra também é uma boa oportunidade para os alunos estagiarem.