O primeiro longa-metragem de Esmir Filho, o diretor do conhecido curta <i>Tapa na Pantera</i>, concorre ao Leopardo de Ouro no festival de cinema de Locarno e surpreendeu o público suíço ao centrar sua história em um reduto de população alemã que vive isolada no sul do Brasil.
Baseado no livro homônimo de Ismael Caneppele, quem por sua vez interpreta um misterioso personagem no filme, <i>Os Famosos e os Duendes da Morte</i> é ambicioso “não só como filme, mas como um movimento que pede voz para esta região desconhecida pelos brasileiros”, explicou Filho.
O filme mostra o universo criativo encontrado pelo diretor no vale do Rio Taquari, no extremo sul do Brasil, uma região de clima frio e úmido na qual uma colônia alemã da região da Pomerânia se instalou no século XVIII e se manteve isolada desde então em suas crenças e costumes.
“São cidades pequenas, onde não há nada nem ninguém próximo. Só o rio e o campo. Os cidadãos têm uma visão de mundo muito fechada, muito vinculada ao protestantismo, com rádios e jornais em alemão e na qual não se pode fazer nada diferente, porque o vizinho é seu inimigo”, explica Caneppele, que conseguiu expressar a rejeição a sua terra através do livro.
Por isso, <i>Os Famosos e os Duendes da Morte</i> é uma história de fugas, de busca de saídas de um mundo fechado. Uma delas é a internet, “uma janela fria para o mundo”, e a outra é a morte, com um alto índice de suicídios entre a população jovem da região. O filme tenta abrir ainda um terceiro caminho através de seu protagonista.
Este jovem fã de Bob Dylan, que não revela seu nome, encontra na internet uma menina de seu povoado que, metaforicamente, não tem as duas pernas para escapar e decide se suicidar.
Nesse momento, ele “viverá três dias de despedida de seu povo”, marcados pela falta de comunicação linguística com seus avôs, o espaço vazio que existe entre sua mãe e ele desde a morte de seu pai e “a escuridão, que é quando a vida no povoado renasce, porque não se sabe mais o que cada um está fazendo”, explica Filho.
Desta maneira, o ritmo do filme é “tranquilo” e claustrofóbico, mas esconde uma mensagem de terrível disfunção social. “Tenho vontade de mostrar ao Brasil esta parte de seu país que desconhecem, de mostrar aos habitantes de Vale do Rio Taquari um espelho de suas próprias vidas e de mostrar aos europeus o que fizeram ao se instalarem em uma terra alheia”, conclui Filho.