O governo brasileiro anunciou ontem (12) que a Amazônia perdeu 7 mil km² de florestas entre agosto de 2008 e o mesmo mês deste ano.  O dado representa uma diminuição de 45% do desmatamento, em comparação ao mesmo período 2007-2008, que teve 12,9 mil km² de devastação.  Especialistas advertem, contudo, que o resultado não é motivo de comemoração.

“Há algumas considerações.  Têm-se dois números diferentes: primeiro é o da redução, que é sempre importante, o outro é o da devastação – são 7 mil km² de floresta perdida.  Nós só nos contentamos com nenhum desmatamento.  Na leitura do governo, ele faz a festa porque houve uma diminuição muito grande.  Mas se você for colocar o resultado ao lado do que já foi perdido de Amazônia, ao lado da crise climática, o número (7 mil km²) é muito grande”, afirma Marcos Astrini, da Campanha Amazônia, do Greenpeace.

De acordo com Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, a queda no desmatamento amazônico não significa, necessariamente, que houve uma interrupção do desmate, mas uma transferência da devastação amazônica para outro bioma.  “Sabemos que há, nos últimos anos, um ‘vazamento’ de parte do desmatamento rumo ao cerrado, que precisa ser melhor estimado e considerado”.

Segundo Beto Veríssimo, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), já era esperada uma queda expressiva do desmatamento, com devastação em torno de 8.500km, entre 2008 e 2009.  “Os 7 mil km² de desmatamento divulgados ainda podem sofrer correção para cima pelo governo”, disse.

Causas

Para Smeraldi, a queda de desmatamento recorde em 21 anos, detectada pelo Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ocorreu por causa da crise financeira.  “Este desmatamento é exclusivamente especulativo ou de assentamentos.  No período considerado não houve desmatamento devido à pressão econômica, pois 16 frigoríficos fecharam ou suspenderam as atividades na Amazônia e o gado está encalhado.  Infelizmente, 7 mil km² apenas oriundos de especulação e assentamentos não é pouca coisa”, conta.

O ativista do Greenpeace acredita que o governo não foi o principal responsável pela queda da devastação.  “Até mesmo o Terra Legal [programa que visa regularizar terras na Amazônia], que foi brindado como o astro da política pública que ocasionou a queda, entrou em vigor agora, em quatro meses, e os números são de um ano.  A governança brasileira na região é muito baixa.  O que aconteceu foi o surgimento da crise econômica mundial que diminuiu a demanda por produtos vinculados ao desmatamento, como é o caso da pecuária e de grãos, principalmente a soja”, conta.

A pressão pública é outro aspecto que, na opinião de Astrini, fez com que o desmatamento caísse.  “A opinião de cada vez mais pessoas contra o desmatamento é uma circunstância oculta, mas que gera uma pressão de mercado.  Dizendo que não comprarão produtos do desmatamento, geram indignação popular e fazem com que a Dilma [Roussef – ministra da Casa Civil] vá ao evento [de divulgação dos dados].  Você nunca vê a Dilma ajudando, você só vê a Dilma vetando os números que vão ser entregues na Conferência de Copenhague.  Se ela foi, é porque é importante, é porque a sociedade está olhando para isso”.

De acordo com Veríssimo, essa redução da devastação se deve a fatores como o esforço no combate ao desmatamento por parte do governo federal- que começou com Marina Silva, no Ministério do Meio Ambiente- e o fato de a economia brasileira estar em “banho-maria”.  “O condicionamento do crédito real por parte do Conselho Monetário Nacional a produtores com regularidade socioambiental é uma das ações do governo que contribuíram para essa queda”, acrescentou.

Na opinião do ambientalista, a elaboração de uma lista com os municípios onde o desmatamento é mais crítico, a criação de áreas protegidas e o embargo a propriedades ilegais foram outras medidas do governo efetivas para combater a derrubada de florestas.

“Com esse resultado, o Brasil vai com uma boa posição à COP 15 [Conferência Internacional sobre o Clima que acontece em dezembro], mas é preciso que o país mantenha o combate ao desmatamento e apresente o compromisso de valorizar a floresta, fazendo com que, no futuro, o desmatamento chegue a ser próximo de zero”, afirmou o pesquisador do Imazon.

Dados

O Inpe registrou diminuição do desmatamento em quase todos os Estados da Amazônia, com exceção do Amapá – que não foi monitorado.  Em Mato Grosso e no Pará, tradicionalmente líderes dos rankings de desmatamento mensais, a queda foi de 65% e 35%, respectivamente.  Em Rondônia, a queda foi de 55%.

Apesar da redução, o Pará foi o Estado que mais desmatou no período, com 3.680 km², seguido por Mato Grosso, com 1.047 km², e pelo Maranhão, com 980 km² a menos de florestas.

De acordo com o Inpe, a margem de erro da estimativa anual de desmatamento é de 10%, ou seja, pode resultar em uma variação de 700 km² para ou mais ou para menos quando os dados forem consolidados.


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Desmatamento: apesar da queda, ainda falta muito para se comemorar