Sem apoio no Congresso Nacional, alvo de críticas de produtores rurais e com divergências internas em seu governo, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, se envolveu em mais uma polêmica nos últimos dias. Ao demitir o presidente do Banco Central (que é autônomo no país vizinho), Martín Redrado, a presidente provocou desconfianças de investidores argentinos e estrangeiros e acentuou a crise política.


 


Na última sexta-feira (8) a justiça anulou o decreto de Cristina e restituiu o presidente do Banco Central ao cargo, mas ainda ontem à noite a presidente teve uma reunião com assessores e definiu que o governo deve apelar da decisão da justiça federal que derrubou a exoneração de Redrado decretada na quinta-feira (7), mantendo o estado de incerteza no país.


 


Observadores brasileiros avaliam que, por enquanto, a crise na Argentina é questão de política interna sem efeitos nas relações bilaterais. Porém, analisam que o governo argentino vive com frequência momentos de tensão. A relação da presidente com a imprensa é delicada. Ela é acusada por alguns setores de querer controlar o noticiário.


 


Ao longo da última semana, a presidente aproveitou todas as oportunidades para defender a utilização de cerca de US$ 6,6 bilhões das reservas estrangeiras para pagar vencimentos da dívida externa em 2010. Redrado é contrário a medida e atua para protelar a implementação do chamado Fundo do Bicentenário – que permite a utilização dos recursos também para obras de infraestrutura e sociais.


 


A decisão de Cristina de pagar a dívida pública com reservas externas não é usual e assusta a investidores estrangeiros. A indecisão sobre o comando do BC é mais um ingrediente a gerar dúvidas sobre a economia argentina, na opinião de analistas.


A oposição partiu para o ataque contra Cristina e a favor de Redrado. Dos 257 deputados e 72 senadores que integram o parlamento, o governo é minoria.


 


Paralelamente, na última sexta-feira (8), Cristina acusou seu vice-presidente, Julio Cobos, de promover a desestabilização do governo ao supostamente apoiar a permanência de Redrado no Banco Central. Irritada com o subordinado que há menos de uma semana anunciou intenção de disputar as eleições presidenciais em 2011, a presidente passou uma descompostura pública nele.
 
“Eu acredito que todo mundo tem o direito de ser candidato a presidente, mas primeiro deve aprender qual é o papel do vice-presidente”, disse Cristina, em uma cerimônia pública. Para se lançar candidato às eleições presidenciais, Cobos tem de abrir mão do cargo atual. Em março, Cristina virá ao Brasil para um encontro com Lula. Nos dias que estiver fora de Buenos Aires, quem responderá pela Presidência será Cobos. 


 


Para Cristina, é incoerente Cobos se lançar candidato, porque seria uma candidatura de oposição. Ele concorreria com o ex-presidente Néstor Kircher – marido e antecessor da atual presidente -, enquanto participa de reuniões e decisões de governo. De acordo com ela, Cobos deverá rever sua posição e verificar qual é o papel real de um vice-presidente.


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Demissão no BC argentino amplia crise e gera desconfiança entre investidores