A cultura salva São Paulo? Essa foi a pergunta principal do debate que aconteceu nesta quinta (21), no MASP, em São Paulo. O consenso geral entre os participantes foi que sim, apesar das cutucadas pessimistas e bem humoradas de Marcelo Tas, um dos membros da mesa redonda que contou com a mediação do jornalista Gilberto Dimenstein e participação do dramaturgo e criador do grupo Os Satyros (da praça Roosevelt), Ivam Cabral, do produtor cultural Alexandre Youssef, do urbanista Jorge Wilheim e do Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil.
Com organização de Baixo Ribeiro, criador da galeria Choque Cultural, o evento discutiu como a arte pode tornar a cidade de São Paulo, ou pelo menos espaços degradados dela, um lugar mais viável, seguro, onde a circulação de pessoas atraídas por eventos culturais devolvam o dinamismo de regiões antes celebradas mas que, em algum momento da história, foram tomada pelas drogas e pelo crime.
O caso da Praça Roosevelt foi um dos mais emblemáticos. Apesar do recente episódio quando o também dramaturgo e colega de Cabral – Mario Bortolloto foi baleado durante um assalto, Cabral foi o primeiro a mostrar como a ocupação espontânea do local por um grupo cultural representou a renovação não apenas do praça, mas inclusive da região. Ele destacou, por exemplo, a valorização imobiliária, resultado da expulsão natural de usuários de drogas e da volta da circulação das pessoas.
A circulação de pessoas, aliás, tanto quanto a ocupação de espaços degradados por manifestações artísticas, foi apontada como fundamental para devolver o dinamismo dessas regiões. Para Marcelo Tas, facilitar o transporte, com ônibus e metrô circulando 24 horas, facilitaria também com que espaços ociosos pudessem ser ocupados dia e noite, no bom sentido da palavra. Transporte é o meio para a integração entre as pessoas, avaliou Tas.
A baixa Augusta, na visão de Youssef, é um exemplo de como a circulação de pessoas, atraídas por um roteiro cultural crescente e diversificado, trouxe de volta a auto-estima de uma região decadente. Bares, galerias, restaurantes, música e arte. Tudo contribuiu. O poder público precisa aderir à vocação que a cidade cria, disse Youssef, avaliando que a arte pode salvar uma região, integrando os moradores locais, mas precisa contar com a ajuda de políticas governamentais, como transporte, segurança e limpeza.
Mas o governo pode investir diretamente em cultura como forma de revitalizar áreas degradadas. Aliás, deve investir. Cultura salva, mas não sozinha, disse Wilheim, concordando com Youssef. A cidade precisa oferecer espaços de convivência com criatividade e ajuda do poder público, completou o urbanista. E o tal do poder público sabe disso.. Segundo Calil, a Virada Cultural foi criada exatamente como uma das formas da Prefeitura oferecer opções à população em espaços subaproveitados, como o centro antigo de São Paulo. Deu certo.