Consagrado como o melhor filme do festival Mix Brasil em 2007, só agora De Repente, Califórnia (veja o trailer abaixo, na margem esquerda), ainda na época conhecido pelo título original Shelter (em português Refúgio, tudo a ver com a história), chegou comercialmente ao País. O filme é uma excelente pedida para aqueles que vieram para a Parada Gay 2009 e pretendem entrar de cabeça nas programações temáticas.
Apesar do roteiro pouco ousado e da trama cheia de clichês de filmes gays de descoberta da homossexualidade – como no próprio cartaz diz, é um The O.C. gay – uma das abordagens do longa é justamente um tema pungente: a formação de uma família com a base em um casal do mesmo sexo.
Dirigido pelo estreante Jonah Markowitz, o filme é muito bem realizado, com fotografia competente e narra a tocante história dos surfistas Zach (Trevor Wright) e Shaun (Brad Rowe). O primeiro, um jovem pobre que vê seus sonhos acadêmicos serem suprimidos pelas obrigações familiares. Sua irmã tem um filho, Cody, que vê no tio a figura de um pai. Já o segundo, um cara bem resolvido e de família rica, resolve passar umas férias na Califórnia para fugir da tristeza pós-término de relacionamento e se inspirar para escrever um livro.
A vida pesada de Zach acaba fazendo com que ele se refugie nas sessões de surfe com o irmão mais velho de seu melhor amigo, Gabe (daí a escolha do título original do filme). Além de fugir da rotina, ele recebe uma atenção maior de Shaun, inicialmente interessado em sua arte de rua. A convivência vai aumentando, na mesma medida que o interesse pela vida um do outro. Vale lembrar, que as pessoas sabem da orientação sexual de Shaun e esse fato não impede em nenhum momento Zach de “pegar uma onda” com o amigo.
Nesse contexto, se misturam os clichês dos filmes do gênero: os dramas de aceitação, a fuga do amigos, a apatia com a namorada, entre outros. Dentro de um roteiro bem amarrado, Zach passa por todos os passos que um personagem deve enfrentar em um modelo padrão: a apresentação do seu cotidiano (a vida difícil e pobre), o confronto com a nova realidade (quando ele beija Shaun) e a resolução do problema (que seria o casamento e constituição de uma família, já que Cody vai morar com os dois em Los Angeles).
Formação de família por homossexuais e união civil em questão
Diante dessa falta de ousadia na narrativa, o filme poderia ser rebaixado a mais um do gênero GLS, mas ganha pontos ao levantar um tema polêmico: é possível uma criança ser criada por um casal do mesmo sexo? O filme tenta alertar para essa questão. Durante o filme, você percebe que não há a mínima estabilidade na relação da mãe com o garoto e então por que não deixar o irmão, visivelmente mais responsável, criá-lo ao lado do companheiro? Você acaba ficando na torcida diante desse impasse.
A abordagem ganha mais força e fica ainda mais atual, depois que a Suprema Corte da Califórnia confirmou, no último dia 26 de maio, a proibição da união oficial entre homossexuais, embora os casais que formalizaram sua relação durante os meses em que a medida foi legal pudessem manter o status. Duas questões fortes a serem discutidas no mundo por um bom tempo.
Prêmios no currículo
Além da já anunciada escolha de melhor filme no Mix Brasil, Shelter ganhou vários prêmios em eventos como o HBO Outstanding First Dramatic Feature Outfest e nos festivais internacionais do gênero em Los Angeles, Filadélfia, Tampa e de Seattle.
Entre os consagrados, estão o filme, o diretor – pela sua estreia na direção de longa-metragem – e o jovem ator Trevor Wright, que interpretou o Zach.
Filmes do Mix trouxe o longa ao Brasil
O lançamento chega ao Brasil pela distribuidora, de Suzy Capó, uma das curadoras do festival Mix Brasil. A especialidade da empresa é a distribuição de filmes para o segmento GLS.
Segundo Capó, o filme é feito para aqueles de grande coração. A intenção em trazê-lo ao Brasil, foi de trazer ao público uma obra de grande sucesso entre o público gay que pudesse mexer também com qualquer espectadores.
Ano está cheio de filmes GLS polêmicos
Duas ousadas produções brasileiras voltadas para o público GLS vão ganhar as telas muito em breve. A já polêmica série brasileira Os CaRIOcas, com estreia prevista para o ano que vem, e o filme Do Começo ao Fim, de Aluisio Abranches, que mesmo antes da sua estreia já tem dado o que falar por tratar uma história de amor entre irmãos gays.
A série vai mostrar histórias do cotidiano de um grupo de garotos de Ipanema, no Rio de Janeiro, e promete tirar a imagem caricata que o Brasil tem dos gays. Com produção da Cabiria Entertainment, que tem sede em Los Angeles, o projeto vai utilizar casting 100% nacional.
Já o filme de Abranches traz uma história ainda mais polêmica, abordando o incesto e com direito a elenco global – Julia Lemmertz, Fábio Assunção e Louise Cardoso. Dois irmãos, de mesma mãe e pais diferentes, desenvolvem desde a infância um amor maior que o fraternal. O trailer, que vazou na internet, já alvoroçou o público e tornou a estreia uma das mais aguardadas do ano.