Se você tem painéis solares instalados em casa mas não consome toda a energia que é gerada, porque então não vender o excedente para seu vizinho? Ou mesmo para a rede elétrica local? O dinheiro extra poderia servir de incentivo para que mais e mais pessoas passassem a utilizar fontes de energia renováveis em suas próprias casas e assim contribuir para um mundo mais sustentável.

Em países como a Alemanha, incentivos do governo possibilitam que pessoas comuns instalem simples geradores de energia em suas propriedades, como os próprios painéis solares ou torres para captar a energia do vento (turbinas eólicas), e vendam o que não consumir.

No Brasil, porém, são alguns os desafios a serem enfrentados. O primeiro é o custo. Painéis solares, para ficar em apenas um exemplo, são caros e o volume de energia que seria produzido não compensaria o investimento além daquele que já existe para esquentar a água de uma residência.

“A burocracia para ser um gerador de energia também dificulta. Seria preciso constituir empresa, além do governo cortar tarifas de transmissão para que a coisa comece a ser competitiva”, avalia o gerente comercial Bene Florant, que trabalha na Iguaçu Comercializadora, uma empresa que, como o nome diz, comercializa energia elétrica.

Florant explica que as empresas de transmissão de energia são concessões do governo com tarifas reguladas, assim como acontece com rodovias e seus pedágios. Para compensar o investimento, o volume de vendas teria que ser grande. Ele acredita que o governo também não pensa em incentivos para que pessoas comuns virem fornecedores já que, em matéria de sustentabilidade, o Brasil tem 90% de sua matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, principalmente a partir das hidrelétricas. 

Uma alternativa menos complicada seria o governo conceder créditos para quem instalasse pequenos geradores de energia fotovoltaicos, os tais painéis solares. Para cada watt produzido na casa, o dono receberia um certo valor, como já acontece em alguns estados norte-americanos.

Ainda assim, outro desafio, além do custo, é a legislação. Professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), Marcos Carneiro da Silva afirma que a infraestrutura para que uma residência forneça energia para a rede elétrica não é complicada. O problema, segundo ele, é a legislação que precisaria ser regulamentada, seja para conceder benefícios, seja para padronizar questões operacionais. “Do ponto de vista técnico, não haveria dificuldades. Mas precisaríamos coordenar, por exemplo, a frequência com que essa energia excedente produzida pelas casas seria devolvida para a rede”.

O professor aponta para alguns exemplos de geradores, além daquelas grandes hidrelétricas que vem à mente quando falamos em fornecedores de energia. “As usinas de cana de açúcar, por exemplo, fornecem energia para a rede elétrica por meio de suas usinas de biomassa, que queimam o bagaço da cana”, explica. Para elas, Florant afirma que o governo concede descontos nas tarifas de transmissão para que a energia vendida se torne competitiva no mercado.

Mas e as pequenas residências? Para o professor da PUCC, só uma política pública de incentivo poderia resultar em casas fornecendo energia para rede elétrica. Por enquanto, porém, ficaremos apenas com os painéis solares aquecendo a água das próprias casas.


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Custos e legislação impedem a venda de energia elétrica por residências no Brasil