A cúpula da ONU sobre mudança climática (COP15), que acontece em Copenhague, navega nesta quarta-feira sem rumo durante o terceiro dia da reunião, em meio a um claro enfrentamento entre nações ricas e pobres, após o vazamento de um documento do Governo dinamarquês a respeito de um novo acordo sobre a redução de gases do efeito estufa.
O primeiro-ministro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, descarregou nesta quarta-feira munição sobre o texto publicado ontem pelo jornal britânico The Guardian e ressaltou que a Presidência dinamarquesa não apresentou nenhuma proposta.
Rasmussen disse, no entanto, que, no fim de semana não houver um avanço significativo nas negociações, a Presidência dinamarquesa poderia então apresentar uma proposta.
O secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Yvo de Boer, também quis tranquilizar os países em vias desenvolvimento, que se mostraram contrários a alguns pontos do texto dinamarquês, e ressaltou que a preocupação deste grupo é porque “o texto está desequilibrado”. Acrescentou que a grande maioria dos 192 países presentes em Copenhague “querem uma continuação do Protocolo de Kyoto”.
A minuta elaborada pela Dinamarca, que preside esta cúpula da ONU, foi interpretada por ONGs ambientalistas, como a Oxfam Internacional, como uma tentativa de favorecer os países industrializados na divisão das cotas de redução de dióxido de carbono (CO2).
Ao mesmo tempo, circulava na conferência uma proposta apoiada por países emergentes e em desenvolvimento, como Brasil, China, Índia e África do Sul, que defendem manter o curso iniciado pelo Protocolo de Kyoto em 1997, ao qual aderiram 37 países industrializados e que expira em 2012.
Precisamente, o “texto dinamarquês” – como ficou conhecida a proposta – pretende tomar um novo rumo, inclusive fora do caminho fixado pela ONU, segundo Antonio Hill, porta-voz da Oxfam Internacional.
Os desmentidos, longe de aplacar os rumores sobre uma brecha entre ricos e pobres para definir uma redução de CO2 e financiar a mitigação dos efeitos causados pela poluição dos países industrializados no mundo em desenvolvimento, reacenderam as suspeitas entre as duas partes.
O delegado sudanês, Lumumba Stanislaus Di-Aping, criticou duramente o documento dinamarquês e destacou que não há dinheiro suficiente para “se safar” da responsabilidade das emissões de CO2. Afirmou também que os US$ 10 bilhões anuais prometidos até 2012 pelos países ricos “não dão nem para comprar caixões suficientes para a população do Terceiro Mundo”.
O porta-voz do G77 criticou a intenção dos anfitriões dinamarqueses de querer criar um novo acordo e se afastar do Protocolo de Kyoto, o que prejudicaria os países em desenvolvimento.
Nos próximos dias, o grupo de 42 ilhas e países litorâneos mais ameaçados pela mudança climática, e as nações do G77, liderados pela China, esperam ser ouvidos nas várias coletivas de imprensa e apresentações desta conferência.