A Cúpula da ONU da Mudança Climática foi interrompida nesta segunda-feira depois que as negociações não avançaram porque milhares de pessoas credenciadas ficaram de fora da conferência por causa de um colapso no acesso às reuniões.
Nesta segunda-feira, o bloco africano abandonou as negociações após denunciar que os países industrializados estão tentando “matar” o Protocolo de Kyoto ao tentar carimbar um acordo mais amplo que inclua compromissos vinculativos de redução de emissões poluentes às nações emergentes.
A Presidência dinamarquesa dedicou a manhã para reunir-se com os grupos regionais da cúpula, diante da chegada de 50 ministros do Meio Ambiente, situação que incomodou blocos como o africano, porque gerou o cancelamento das sessões plenárias.
O presidente do grupo, o delegado argelino Kamel Djemouai, denunciou que a Presidência dinamarquesa trata de forma separada (quando convém) e misturada elementos das duas vias de negociação, a de Kyoto e a da Convenção Marco da ONU.
“Se aceitarmos esta situação, assinaremos a morte de Kyoto, o único documento legalmente vinculativo existente”, afirmou Djemouai.
A saída africana era minimizada pelo secretário-executivo da conferência, Yvo de Boer. Segundo ele, a presidente da conferência, a dinamarquesa Connie Hedegaard, dedicou a manhã para coordenar a agenda da conferência com os diferentes grupos.
Além disso, coletivas de imprensa das delegações dos EUA e da China, os dois países mais poluentes do Planeta, previstas para esta segunda-feira, foram canceladas sem motivo, além de outros compromissos com a imprensa.
O tom das negociações endureceu na semana passada, diante da negativa dos países emergentes de carimbar acordos vinculativos – o que conforme o Protocolo de Kyoto só estão obrigados os países ricos – mas a apresentação de duas minutas de trabalho acalmou os ânimos.
As delegações da China e dos EUA se enredaram em uma particular guerra interna, ao atribuírem um ao outro os maiores compromissos ambientais, enquanto os Países Menos Desenvolvidos se uniram ao pedido das nações ricas para que também os emergentes se comprometam de forma vinculativa.
Boer insistiu nesta segunda-feira que a cúpula não foi suspensa e anunciou que a Presidência tinha aberto consultas informais de “final aberto” para buscar o consenso dos “temas” do documento final.
Caos
A cúpula da ONU assistiu ao caos na sua organização a partir desta manhã com a chegada de uma avalanche de assistentes de 50 ministros do Meio Ambiente que participarão da reunião dinamarquesa.
A organização comunicou que foram credenciadas mais de 43 mil pessoas para a cúpula, das quais até esta segunda-feira 22 mil credenciais já foram emitidos.
Por questões de segurança, o Bella Center, sede da conferência, só pode receber 15 mil pessoas, mas nesta segunda-feira já haviam emitido mais de 20 mil bilhetes de ingressos ao local, conforme um porta-voz da ONU.
A organização comunicou no sábado que a partir desta terça-feira será limitado o acesso às ONGs, por causa da chegada de 110 chefes de Estado e de Governo.
O caos na organização gerou um protesto de 3 mil pessoas em frente à entrada do prédio depois que estas ficaram de fora do Bella Center, após oito horas de espera em temperaturas próximas de zero grau.
Os organizadores lamentaram os incidentes, mas afirmaram que com a presença dos líderes mundiais, o acesso sofrerá sérias restrições, principalmente para ONGs e jornalistas.
Mais protestos
Um protesto, convocado pela organização Climate Justice para defender a abertura de fronteiras e contra a indústria militar, transcorreu pelo centro da cidade, gerou enfrentamentos e tumultuou o centro da cidade também.
Durante o protesto, 17 pessoas foram presas. Pelo menos 15 ativistas foram detidos de forma preventiva antes do início da caminhada e os outros foram detidos por porte ilegal de armas e agressão a um agente.
O objetivo inicial era chegar até a sede do Ministério dinamarquês de Defesa, mas ao passarem na altura da Praça do Parlamento ocorreram enfrentamentos entre os agentes e os ativistas e a concentração acabou sendo dissolvida minutos depois.
A grande maioria das prisões ocorreu dentro de uma detenção administrativa preventiva para evitar hipotéticos incidentes, um recurso muito criticado pelas ONGs e organizações como Anistia Internacional.
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