Existem críticos de livros, filmes, televisão, de arte… E de revista? Agora há também. Há quase um ano e meio no ar, o blog dasBancas tem a árdua tarefa de analisar, resenhar e criticar as magazines que batem ponto nas bancas de jornal do Brasil e do mundo. Eles escarafuncham mesmo. Quando é para elogiar, não perdem tempo. Se é para descer o sarrafo, idem. Mas sempre com uma boa dose de elegância e humor.
Pilotado pelos amigos Greg Souza, de 22 anos, Leandro Pontes e Thiago Muniz, de 29 e 24, o blog já virou referência dentro das próprias redações e leitura obrigatória para quem escreve e edita revistas. “Mas até hoje nunca ganhamos nenhuma de graça, o que é uma pena”, brinca Greg, que falou um pouco mais sobre o dasBancas com o Virgula.
Pergunta básica: como surgiu o blog?
Nós três sempre fomos viciados em revistas e fotografia e passamos a nos tornar também leitores de blogs. Como não conhecíamos nenhum focado em revistas, resolvemos encarar o desafio de criar um blog que não apenas divulgasse e sim criticasse todo tipo de revista, já que sabemos que existe muita gente com o mesmo perfil que o nosso. Ah! E teve também a história do Leandro querer manter um vínculo com nós dois de Belo Horizonte, já que ele mora no Rio.
E como vocês se conheceram, já que moram em cidades diferentes?
Já nos falávamos há algum tempo graças a grupos de discussão de revistas masculinas como VIP e Playboy, nossos focos iniciais. Como eu e o Thiago somos de BH e tínhamos conhecidos em comum, logo ficamos amigos. O Leandro apareceu quando morou aqui durante três meses por motivos profissionais. Até hoje continuamos grandes amigos.
Vocês devem gastar um bocado. Quantas revistas compram por mês?
Compramos porque gostamos de ler, ver e colecionar, mas certamente nossos gastos aumentaram por conta do dasBancas. Thiago e Leandro são formados em design, interessados no assunto e eu estou me formando em publicidade e trabalho com marketing de moda. Por isso tenho acesso a várias revistas graças ao nosso clipping de marca.
Como vocês fazem a crítica? Percebo que é sempre pelo lado gráfico, menos pelo editorial. Confere?
Confere, mas há exceções. Por causa da formação dos meninos e do nosso interesse em fotografia e imagem, em geral é bem comum que o lado gráfico se destaque. Até porque é onde as redações cometem mais erros graves. Mas tentamos não deixar o conteúdo de lado, mesmo sabendo que a maioria dos nossos leitores estão mais interessados em imagem.
Como analisam o mercado de revistas no Brasil? Quais são as nossas falhas e pontos positivos?
O mercado editorial brasileiro é, sem dúvida, a prioridade do dasBancas. Apesar de diversificado e muito segmentado, o que é um ponto positivo, acho que de forma geral falta ousadia para as revistas brasileiras. Falo isso tanto para o conteúdo como para as capas, é preciso se desapegar um pouco de aspectos comerciais e de baixo repertório, repetir menos os formatos e personalidades de capas e, principalmente, tentar fazer diferente quebrando tabus. Dois bons exemplos a serem seguidos são as revistas publicadas na Itália e na França, talvez as preferidas da gente e dos nossos leitores.
Poderiam citar suas revistas favoritas? Aquelas que curtem ler e que curtem gongar?
Bem, tudo começou por conta de Playboy e VIP, por isso as masculinas em geral continuam com maior destaque. Mas ao longo desse um ano de dasBancasas revistas de moda, como Vogue, e de comportamento feminino, como TPM, começaram a ganhar mais espaço e atingir um público diferente do começo do blog. Inclusive essa última levou o prêmio do nosso concurso de melhor capa de 2008 e divulgou isso no blog da redação deles. Os principais alvos de gongo são mesmo as nossas favoritas, mas é impossível deixar passar as gafes da Nova e qualquer tipo de manipulação exagerada em Photoshop, muito comum atualmente.
Vocês já conversam com os jornalistas e editores das revistas que criticam? Como rola o feedback? Já chegam a receber as revistas de graça?
Já recebemos alguns e-mails de jornalistas, fotógrafos e fazedores de revistas em geral comentando e elogiando nosso trabalho. Alguns justificam as críticas, mas a grande maioria leva numa boa. Fomos incluídos no mailling de divulgação de várias publicações, o que é bem interessante para bolarmos os posts. Trocamos e-mail com o Edson Aran (diretor de redação da Playboy) e com outros diretores de redação e às vezes eles se sentem à vontade em nos dar as capas antes. Mas até hoje nunca ganhamos nenhuma revista de graça, o que é uma pena (risos).
Já brigaram com algum jornalista de uma das revistas criticadas?
Tivemos alguns momentos de discussões acalouradas com os leitores e chefes de redação de algumas revistas masculinas, mas por exagero nosso e fanatismo deles. Tudo muito saudável, ao menos em seus resultados. O Aran é um exemplo disso: no começo nos estranhamos um pouco, mas agora temos respeito mútuo e nos damos bem. Ele até nos indicou em seu Twitter e no seu blog pessoal. Quanto aos outros jornalistas percebemos que eles preferem que a gente fale mal a não falar nada.
As pessoas compram cada vez menos revistas e preferem lê-las na internet. O blog de vocês teria então um certo caráter nostálgico?
Inevitável concluir que as vendas caíram e muito por conta da internet. Nós mesmos lembramos da tensão em torno da espera das próximas capas, chegar na banca e se surpreender ou se decepcionar. Hoje não existe isso mais, é possível ver tudo virtualmente até mesmo antes da revista estar à venda. Mas não acho que o dasBancas tenha carater nostálgico. Ainda não. Assim como nós três, existem muitas pessoas apaixonadas por revistas, por fotografia, por layouts e, principalmente, por papel. O impresso pode até estar com seus dias contados, mas até lá estaremos atentos no que há de melhor e pior no meio. Depois disso poderemos pensar em tratar o assunto com certa nostalgia.