Colaborações entre artistas e fãs sempre aconteceram no mundo das artes. Entretanto, com o surgimento da Web e de ferramentas como o Facebook, o Twitter e o MySpace, o relacionamento entre quem produz e quem consome música foi além da simples interação, chegando a afetar diretamente o produto final. Se antes o público apenas palpitava a respeito do álbum já pronto, hoje existem bandas e cantores que permitem que o público interfira no processo de criação das faixas.
Tommy Lee é um dos exemplos mais radicais deste novo processo de criação musical. O baterista do Mötley Crüe literalmente pediu ajuda aos fãs para terminar o novo CD de sua outra banda, Methods of Mayhem. A idéia, bastante corajosa, é a seguinte: o grupo irá disponibilizar faixas inacabadas para download para que qualquer um possa terminá-las, acrescentando outros instrumentos, camadas de vozes e modificando os arranjos ou, se quiser, criando uma música completamente nova.
Como o resultado de uma iniciativa como essa é totalmente imprevisível, pouquíssimos músicos deixam os fãs entrarem em seu processo criativo de maneira tão radical. Normalmente, os artistas preferem formas de colaboração mais amenas: o Teatro Mágico, por exemplo, compôs a faixa O Que Se Perde Enquanto Os Olhos Piscam pedindo sugestões para os fãs pelo Twitter.
O Twitter, aliás, se tornou uma maneira simples para os fãs entrarem em contato direto com seus artistas favoritos. Alex Kapranos, do Franz Ferdinand, pediu recentemente ajuda em seu perfil no microblog para achar rimas para palavras como whisky e bottle (garrafa) enquanto escrevia letras para uma das novas músicas da banda.
No Brasil, o grupo Stevens resolveu criar o roteiro do videoclipe do single O Que Você Sempre Quis a partir das sugestões postadas pelos fãs no Twitter. O resultado terá os créditos de cada usuário que ajudou a compor o conceito do vídeo.
Remixes
Uma das maneiras mais adotadas para interagir com os fãs no processo criativo são os remixes. Em vez de recrutar os serviços de produtores e DJs profissionais, alguns músicos deixam essa tarefa para o público, fazendo concursos nos quais disponibilizam faixas abertas para a produção de versões alternativas de suas músicas.
O Nine Inch Nails é uma das bandas que mais promove esse intercâmbio. A banda criou o projeto Nin Remixes.com, que deixou de lado a preocupação com direitos autorais e disponibilizou para os fãs diversas faixas abertas, inclusive em formato multitrack, que separa os instrumentos e vocais e facilita os samples.
Na mesma pegada, Lily Allen promoveu, em junho, uma competição de remixes de suas músicas mediada pela gravadora EMI. O vencedor, aliás, foi o brasileiro Thiago Corrêa, que fez uma releitura samba-rock do hit Knock Em Out, faixa do primeiro CD da cantora inglesa, Alright, Still.
E os exemplos não param de surgir: outros artistas, como Radiohead (que abriu as faixas Reckoner e Nude, do álbum In Rainbows, para os fãs mandarem bala nos remixes), Black Eyed Peas, Mike Shinoda (do Linkin Park), Mariah Carey, Britney Spears e Franz Ferdinand.
Apesar de tantas iniciativas, os fãs que quiserem remixar seus artistas favoritos devem ficar de olho na questão dos direitos autorais. Enquanto o Nine Inch Nails e outras bandas disponibilizam as faixas gratuitamente para os fãs, outros grupos não admitem de jeito nenhum abrir seu repertório sem receber por isso. Ou seja, em tempos de perseguição das gravadoras ao internauta que “ousa” usar arquivos mp3 para ouvir música, queimar CD-Rs ou brincar de DJ ou produtor, todo cuidado é pouco.