Quando Miranda Kassin sobe ao palco do Studio SP acompanhada por seus músicos, o público desavisado se pergunta qual o motivo da caracterização da cantora. Quando começa a cantar, entretanto, a dúvida se esclarece: o projeto de Miranda, intitulado I Love Amy, reinterpreta diversos sucessos da carreira da garota-problema Amy Winehouse.

Assim como o I Love Amy, outros trabalhos baseados em covers, como Heroes, Seu Chico, Del Rey e Los Sebosos Postiços, estão fazendo sucesso no Brasil ao não apenas fazer releituras fiéis do repertório de artistas consagrados, mas também modificar os arranjos originais de forma bastante autoral.

Um dos destaques desse novo cenário é André Frateschi, criador do Heroes, banda cover de David Bowie. Segundo ele, seu sucesso deve-se a muito trabalho, já que é difícil agradar aos fãs do ‘camaleão’. “Normalmente o público chega muito desconfiado. Eu chegaria. Fãs de Bowie tem verdadeira adoração por sua obra. Mas existem em São Paulo várias bandas que fazem um cover diferenciado e que convencem os fãs, como a Central Scrutinizer, que toca Frank Zappa”, comenta.

Para ele, é essencial que exista um processo intenso de pesquisa para recriar o repertório de um artista. “Pesquiso as versões existentes de cada faixa e, a partir daí, levantamos as músicas nos ensaios”, conta ele. “Em um trabalho desses, você tem que se apropriar da obra do autor escolhido. Acho o trabalho do intérprete pouco valorizado e praticado no Brasil”, completa Frateschi.

Miranda Kassin teve a ideia de criar o I Love Amy exatamente a partir do desejo de criar um projeto de intérprete. “E como enlouqueci com o trabalho da Amy Winehouse, ela foi a escolha mais óbvia pra mim”, conta Miranda, que também reafirma a importância da pesquisa para criar um cover, assim como a necessidade de trazer outras influências musicais para o trabalho. “Tem muito dela incorporada por mim, mas tem mais de mim mesma. Também canto as minhas outras influências, como Etta James, Nancy Sinatra, Carmen McRae e Robert Cray”, afirma.

Fazer igual ou mudar tudo?

Para o cover de David Bowie, criar um projeto cover é parecido com o de interpretar. “No teatro, você precisa se aproximar do personagem estudando o texto. É a mesma técnica que utilizo na música”, conta André Frateschi, que também é ator. Desta forma, fazer cover é, mais que copiar a música do mesmo modo que a original, criar um trabalho novo.

“Em cada música, nós aproveitamos as características individuais dos instrumentistas, misturamos tudo e o resultado vem. Não temos a preocupação em criar alguma coisa para soar diferente, mesmo porque é mais sensação do que método”, conta Miranda.

Lúcio Maia, guitarrista do Nação Zumbi e integrante do Los Sebosos Postizos, grupo cover que interpreta faixas de artistas como Jorge Ben Jor e Tim Maia, acredita que não existe motivo para uma banda cover tocar as músicas iguais às originais.

“Na verdade, acho que isso é o menos recomendado. Se fosse assim, ninguém iria a um show do Los Sebozos Postiços para ver a gente tocar as músicas da mesma maneira que estão lá no CD. Isso acaba com a graça de qualquer banda”, afirmou Maia, que disse que a única coisa que importa é respeito. “Se você tiver respeito e admiração pelo artista que está interpretando, todas as modificações dão certo”, completou.


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Com releituras autorais, novos artistas e bandas cover conquistam público alternativo

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