A 34ª edição do Festival Internacional de Cinema de Toronto foi dominada nesta segunda-feira por duas polêmicas: uma discussão sobre o sistema capitalista, apresentada por Michael Moore, e a necessidade social de mentir, levada por Rick Gervais.

O polêmico Moore, diretor conhecido por sua visão crítica do sistema econômico e político americano em documentários como Tiros em Columbine, Fahrenheit 9/11 ou SiCKO, não teve nenhum problema para atacar o capitalismo durante uma entrevista coletiva concedida nesta terça (15), em Toronto.

O diretor americano de documentários qualificou o capitalismo de “animal”, durante a apresentação de seu último filme, intitulado Capitalism: A Love Story, e aproveitou para lançar uma dura crítica contra a imprensa em geral e os jornais, em particular os dos Estados Unidos.

O diretor disse que a discussão sobre o capitalismo é considerada um tabu tão grande nos EUA que estava sendo difícil para ele entrar no circuito dos programas de televisão para promover o filme, que estreia hoje no país com uma projeção exclusiva para representantes de sindicatos.

“Não é que não gostem de mim, mas alguns programas ficam nervosos que coisas assim sejam ditas e têm que me cortar e colocar anúncios em meu lugar. Também estão tendo dificuldades para encontrar alguém que queira apresentar outro ponto de vista”, afirmou Moore, durante a entrevista coletiva.

O diretor também disse que os males da imprensa escrita nos EUA não vêm do desenvolvimento da internet, mas do fato de estar preocupada em cativar os anunciantes, e não os leitores, já que eles se tornaram sua principal fonte de renda.

Em Capitalism: A Love Story, Moore explora os danos causados na sociedade americana em nome de seu “amor pelo capitalismo” e tenta encontrar respostas nos centros de poder do país, Washington D.C. (político) e Wall Street (econômico).

A conclusão de Moore é que “o capitalismo, em geral, é o responsável por uma grande quantidade de sofrimento nos EUA e no mundo todo”.

Moore explicou que seu problema com o sistema capitalista é que ele estimula a avareza.

“Para mim, o capitalismo é um sistema que legalizou a avareza. É uma gigantesca fraude piramidal. Eu rejeito o sistema, porque acredito na democracia”, disse.

“A avareza esteve com a humanidade desde sempre. Antes do capitalismo, buscamos formas para mantê-la sob controle. Mas o capitalismo encoraja a avareza, a exige. Os diretores de uma empresa têm a responsabilidade de explorar ao máximo sua rentabilidade”, disse Moore.

Por sua parte, o diretor inglês Rick Gervais, um dos criadores da série de televisão americana The Office, também analisou outro dos instintos básicos que acompanha a humanidade desde sua origem: a mentira.

Em The Invention of Lying, com atuações de Jennifer Garner e Rob Lowe, Gervais recria um mundo paralelo no qual não se dizem mentiras, nem sequer as pequenas para tranquilizar um amigo ou a própria consciência. No entanto, Mark Bellison, interpretado pelo próprio Gervais, inventa sua primeira mentira.

Segundo ele, o filme, do qual é co-roteirista junto com Matthew Robinson, é “um filme filosófico” no qual a farsa serve como “um cavalo de Tróia para apresentar grandes ideias”.

O diretor qualificou o canadense Lowe como “geneticamente perfeito”, e em seguida comentou, cheio de humor: “Olhe bem para essa mandíbula, é ridiculamente perfeita”.

Sobre as piores mentiras que foram ditas sobre ele, Lowe brincou que “não é verdade que esteja casado em segredo com Ben Affleck (marido de Jennifer)”.


int(1)

Capitalismo e mentiras invadem o Festival de Cinema de Toronto