A crise financeira internacional foi deflagrada em setembro do ano passado quando o BNP Paribas, banco que atua no mercado de financiamento imobiliário dos Estados Unidos, anunciou um recuo na oferta de crédito.

Em efeito cascata, o mercado reagiu negativamente e bancos como Citigroup, UBS e Bear Stearns anunciaram prejuízos bilionários decorrentes da crise no mercado hipotecário. Já o Lehman Brothers teve menos sorte e, diante do rombo no caixa, teve que recorrer à lei de falências norte-americana.

Em plena globalização, a crise instaurada nos Estados Unidos se espalhou pelo mundo forçando o governo norte-americano a estancar tamanho sangramento através de um pacote trilionário destinado aos bancos e empresas a fim de estimular o consumo e auxiliar as companhias deficitárias (como GM e Chrysler).

Durante meses, a saída para muitas empresas foi juntar os cacos, lamber as feridas e recomeçar (muitas vezes através de reestruturações e fusões).

E eis que os primeiros balanços divulgados a partir do segundo trimestre deste ano passaram a indicar a tão aguardada recuperação.

Nos Estados Unidos, a queda do PIB tem perdido força e o mercado imobiliário voltou a dar sinais de recuperação. Mas o desemprego continua em alta e o consumo ainda não retornou ao nível pré-crise.

Já no Brasil, apesar da redução do crescimento do PIB, a geração de empregos continua em alta e o crédito nunca esteve tão abundante. Há quem diga que a crise não chegou por aqui – ou, como disse o presidente Lula, foi apenas uma “marolinha”.

Nesse contexto, o Bate/Rebate desta semana quer saber: É seguro dizer que a recessão econômica acabou?

“NÃO, A CRISE CONTINUA”
Paulo Adani, Professor de Economia da PUC-Campinas e Delegado do Corecom/Campinas-SP

“Não é seguro dizer que acabou. Acho que a situação não está resolvida. O problema já vinha sendo gestado há muito tempo e se manifestou apenas em setembro do ano passado. Foi rompido um dos alicerces do Capitalismo com a quebra do sistema financeiro através de uma crise de confiança.

O choque foi muito violento. E ainda não voltamos a normalidade. Os governos fazem todo o esforço possível, mas as feridas ainda não foram cicatrizadas.

Com essa situação, os gastos em maquinas e equipamentos foi bem abaixo da normalidade. Os esforços de cada governo e os estimúlos do consumo estão tentando reverter a situação. E apenas agora há uma ligeira retomada disso.

Na minha opinião, nós ainda não saimos da recessão. Isso só vai acontecer em 2010/2011 quando deveremos voltar ao patamar de 2008.

Não podemos negar que o governo brasileiro foi talentoso. Eles agiram no sentido de oferecer mais crédito diante do cenário da escassez de crédito. Tanto que os bancos públicos ganharam um espaço muito grande dos privados. Mas também no Brasil os investimentos foram afetados. O Brasil, em termos de crescimento economico, não vai apresentar nada de significativo neste ano e nem em 2010.”

“SIM, A CRISE ESTÁ NO FIM”
Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escolas de Negócios

“Sim, no Brasil é seguro. Daqui pra frente a situação vai melhorar lentamente, mas de maneira consistente. A própria situação da economia está melhorando, sobretudo na China, e com isso o preço dos produtos que o Brasil exporta tem aumentado. Já no âmbito interno a economia está se recuperando com melhoria nos indicadores de produtividade da industria e do comércio.

Nos Estados Unidos eles estão diminuindo o ritmo de retração. Ainda está ruim, mas num ritmo menor. É possível que a partir de agora, do terceiro trimestre do ano, a economia já volte a crescer nos Estados Unidos. Eles devem fechar o ano com um PIB negativo (de -2,5%), mas no final do ano eles devem reverter a curva. Na Europa e no Japão eles devem demorar pra sair mais da recessão.

A valorização do real frente ao dólar dificulta as exportações, já que os produtos se tornam mais caro no exterior. Mas os principais produtos de exportação estão melhorando os preços em dólar. Para a inflação, a queda do dolar é mais positiva. E com a inflação menor, o BC pode reduzir a taxa de juros. Assim, melhora o desempenho da economia.

No Brasil, o nível de desemprego vem caindo e nos Estados Unidos o mercado imobiliário voltou a crescer, apontando para a retomada das atividades e para o fim da crise.”


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BATE/REBATE: É seguro dizer que a recessão econômica acabou?