As obras de ampliação da Marginal Tietê, em São Paulo, já começaram. Árvores foram arrancadas, críticas foram feitas e dúvidas persistem. O BATE/REBATE desta semana quer saber se mais faixas vão ajudar a resolver o problema do trânsito na região e qual o impacto para o ambiente de cortar árvores e impermeabilizar ainda mais o solo.

A reportagem do Virgula conversou com dois especialistas que possuem visões diferentes sobre a necessidade e o impacto ambiental da obra: a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), Raquel Rolnik, e Paulo Vieira de Souza, Diretor de Engenharia do Desenvolvimento Rodoviário SA (Dersa), orgão responsável pela execução das obras.

CONTRA

“Essas obras são um retrocesso”, dispara professora Raquel. “Ampliar a marginal não vai resolver o problema do trânsito. Com o Rodoanel pedagiado e o aumento da capacidade da marginal, ela vai atrair ainda mais veículos. É triste. Justo agora que o governo estava fazendo investimentos em transporte coletivo, que é o que precisamos, vemos uma intervenção que vai na contramão da recuperação da qualidade da vida no meio urbano”, avalia a professora.

Para ela, é preciso investir pesado em transporte coletivo, além de integrar os diferentes meios como, por exemplo, ampliar os bicicletários em estações de metrô e construir mais ciclovias. “Precisamos mudar o modelo, baseado no automóvel, para o transporte coletivo e isso envolve decisão política”, diz.

Professora Raquel aponta ainda, possíveis interesses por trás das obras de ampliação da Marginal Tietê. “Foram empreiteiras que propuseram as obras na marginal que, por sua vez, funcionam como complemento de obras nas rodovias que chegam à cidade. Vemos no Rodoanel, por exemplo, a abertura de uma nova frente imobiliária”, avalia.

A FAVOR

Para o engenheiro Paulo Vieira de Souza as obras na marginal não necessárias. “Pelos nossos estudos, percebemos que as pessoas usam a Marginal Tietê como pista local, como ligação entre bairros. Em média, cada pessoa percorre apenas cinco quilômetros de pista por dia. A obra vai melhorar a fluidez do trânsito em até 35%. Mas para isso, precisamos também de obras complementares, como pontes e viadutos de conexão e acesso”, explica o diretor.

Quanto ao Rodoanel, Souza explica que o ganho no tempo é o que leva o veículo a acessar a via, assim, mesmo que ela tiver pedágios e a marginal tiver sua campacidade ampliada, não haverá fuga de veículos para dentro do perímetro urbano.

Souza calcula que quando todos os trechos do Rodoanel estiverem prontos, bem como as obras nas avenidas Roberto Marinho, Bandeirantes e Jacu-Pêssego por volta de 2014, a fluidez do trânsito em São Paulo deve melhorar em até 60%. “Isso representa menor gasto com combustível e, por consequência, menor emissão de CO2 para a atmosfera”.

O diretor argumenta ainda, que a impermeabilização do solo será insignificante, menos de 0,1% da região da Marginal Tietê, e haverá plantio de árvore para compensar. “O que resolve problema de enchente é o rebaixamento da calha do rio. Além do mais, cortamos 559 árvores para realizar as obras e vamos plantar 4,9 mil somente na própria marginal. Também vamos plantar mais de 80 mil mudas em outros pontos, como o Parque Ecológico do Tietê”, justifica.


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BATE/REBATE: A ampliação da Marginal Tietê para os carros é uma boa ideia?